Afastamento de militares de Bolsonaro é sinalização a Lula

By | 15/01/2022 10:42 am

Episódios no Exército e na Marinha tentam contornar falta de interlocução atual com petista

(Igor Gielow,

Os recentes episódios em que as Forças Armadas demonstraram distanciamento do governo do capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro (PL) são ao mesmo tempo sinalização de posição e aceno a outros candidatos na disputa presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente.

Segundo a Folha ouviu de oficiais-generais das três Forças, apesar de a interlocução com o petista ser basicamente inexistente neste momento, os eventos falariam por si e serviriam para tirar o bode de um golpe militar contra Lula em caso de vitória em outubro.

O comandante Paulo Sérgio, o ministro Braga Netto e Bolsonaro durante o polêmico desfile de blindados da Marinha que visou intimidar o Congresso no dia da votação acerca do voto impresso, sem sucesso
Paulo Sérgio, Braga Netto e Bolsonaro durante o polêmico desfile de blindados da Marinha que visou intimidar o Congresso no dia da votação acerca do voto impresso, sem sucesso – Evaristo Sá – 10.ago.2021/AFP

Nas duas últimas semanas, alguns fatos se colocaram na sempre espinhosa relação entre os militares e Bolsonaro, a saber:

1. O Exército determinou que todos os 67 exercícios militares programados para o ano fossem encerrados até setembro para liberar a tropa no caso de haver violência eleitoral ou, ainda pior, algum cenário ao estilo Capitólio dos EUA.

3. O diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), almirante Antonio Barra Torres, divulgou uma duríssima nota chamando o presidente à responsabilidade por ter acusado o órgão de ter interesses escusos na vacinação de crianças, que Bolsonaro critica.

O conjunto de eventos, dizem fardados em altos postos do serviço ativo, estabeleceu de saída no ano eleitoral uma linha divisória entre a balbúrdia presidencial e as Forças.

Mais que isso, buscou dizer aos candidatos ao Planalto que, independentemente de quem vença a eleição, a Força se manterá neutra. Os atos foram necessários já que, do ponto de vista de imagem, o caráter militar do governo Bolsonaro causa justificável apreensão da esquerda à direita.

Há entre os militares um sentimento refratário ao petista devido ao que consideram leniência com a corrupção, tanto que a candidatura de Sergio Moro (Podemos), o ex-juiz que colocou o petista na cadeia por 580 dias, levantou interesse em setores fardados.

Por outro lado, na cúpula, há o pragmatismo de que hoje Lula é o favorito para vencer a eleição. A leitura benigna é de que os militares buscam reiterar isenção; a mais maquiavélica é a de que não querem revanchismo por parte do novo chefe, caso o petista volte ao poder.

De todo modo, todos os ouvidos lembram o que chamam de tempos de vacas gordas sob Lula, quando a bonança internacional das commodities e uma gestão fiscal responsável até a etapa final de seu mandato permitiram o reequipamento das Forças com programas como o de submarinos, de caças e de blindados.

Segundo interlocutores do ex-presidente, ele ainda vê com reserva o comportamento do Exército em 2018, quando o então comandante Eduardo Villas Bôas pressionou o Supremo Tribunal Federal em um tuíte para não conceder habeas corpus que evitaria sua prisão.

Por outro lado, dizem que não acreditam haver óbice institucional algum numa eventual relação, e que Lula tem compreendido os sinais de fumaça que vêm da caserna.

Já no de Barra Torres, que enfatizou em sua nota cobrando que Bolsonaro ou recuasse, ou se retratasse, a situação ficou algo em aberto. O Comando da Marinha avalizou os termos do almirante, que enfatizou sua condição de oficial-general médico da reserva ao longo do texto.

Bolsonaro buscou ignorar o episódio para o dar como encerrado, dizendo que não tinha colocado a integridade da agência em dúvida —só para repetir insinuações.

O padrão tem irritado comandantes militares, ciosos de que a sinergia entre o governo Bolsonaro e as Forças é algo difícil de ser extirpada da mentalidade pública.

Como deixou claro livro-depoimento de Villas Bôas, editado no ano passado, os militares operaram uma volta à política nas costas de Bolsonaro quando foi exacerbado o sentimento antipetista na cúpula fardada.

Soldado indisciplinado e processado por isso, o então deputado era visto com desprezo por generais, até que um grupo na reserva atentou a seu potencial eleitoral e viu uma possibilidade de volta ao poder. O serviço ativo aquiesceu, e forneceu quadros para o novo governo.

O sucessor de Villas Bôas, Edson Leal Pujol, chocou-se diretamente com Bolsonaro e acabou derrubado, no escopo da crise militar que levou toda a cúpula da Defesa em março passado.

Seu sucessor, Paulo Sérgio Oliveira, vem navegando com mais habilidade, embora tenha tido de ceder ao não punir Eduardo Pazuello quando o general intendente da ativa, ex-ministro da Saúde, foi a ato político com o presidente.

Tanto foi assim que, na sequência dos dois episódios recentes, ele se reuniu com Bolsonaro, que afirmou estar tudo bem na relação com sua antiga casa militar.

Na prática, os militares saíram dos holofotes desde que o presidente baixou o tom de seu embate com Poderes e firmou a aliança com o centrão, depois da crise aguda do 7 de Setembro de 2021. Como as falas recentes de Bolsonaro sugerem, isso é bastante frágil como arcabouço.

Oficiais da ativa se queixam dos movimentos dos generais de terno no governo. As conversas mais recentes giram em torno de Braga Netto, que foi ministro da Casa Civil antes de assumir a Defesa na esteira da crise de março.

Ele se mostrou um dos mais bolsonaristas dos militares no governo e tem seu nome especulado para ocupar a vaga do também general de quatro estrelas da reserva Hamilton Mourão como candidato a vice-presidente na chapa governista.

O apoio e a bancada que será eleita mesmo que Bolsonaro patine abaixo dos 20% no primeiro turno podem ser suficientes, sem carregar o eventual caixão político do presidente de forma tão explícita.

Neste caso, Braga Netto surge forte, até porque ele é visto como um cumpridor de ordens. O arranjo é apoiado por Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral), que segundo aliados quer ocupar a Defesa neste último ano de mandato.

O Brasil é o país com melhor preparo militar da América Latina segundo o Instituto Internacional para Estudos Estratégicos. A distribuição das forças militares brasileiras pelo território concentra um número maior de tropas na região Sudeste

O Brasil é o país com melhor preparo militar da América Latina segundo o Instituto Internacional para Estudos Estratégicos. A distribuição das forças militares brasileiras pelo território concentra um número maior de tropas na região Sudeste

Unidades dExército

O comandantdExército é o generaPaulSérgiNogueirdOliveira

  • Boa Vista

Belém

Manaus

Fortaleza

Natal

Paraíba

Porto Velho

Recife

Salvador

Brasília

Cuiabá

Sede de Comando Militar

Divisão

Região Militar

Brigada blindada

Brigada mecanizada

Brigada motorizada

Brigada paraquedista

Brigada leve/fronteira

Brigada de selva

Brigada de artilharia antiaérea

Comando de Operações Especiais

Comando de Aviação do Exército

Grupamento de Engenharia

Comando de Artilharia do Exército

Belo Horizonte

Rio de Janeiro

São Paulo

Curitiba

Florianópolis

Porto Alegre

Norte

Amazônia

Tropas por

Comando Militar

Nordeste

Planalto

Oeste

Leste

Sudeste

Sul

Unidades dMarinha

O comandantdMarinha é o almirantAlmiGarnieSantos

Belém

Manaus

Fortaleza

São Luís

Natal

Recife

Porto Velho

Salvador

Brasília

Cuiabá

Sede de Distrito Naval

Capitania dos Portos

Delegacia

Agência

Esquadra

Base/estação naval

Base de construção de submarinos

Grupamento naval/fluvial

Minagem e varredura

Rio de Janeiro

Florianópolis

Porto Alegre

Tropas por Distrito Naval

Unidades dAeronáutica

O comandantdAero- náutica é o tenente-brigadeiro- do-ar CarloBaptistJr.

Boa Vista Ala 7

Belém Ala 9

Manaus Ala 8

Natal Ala 10

Recife Ala 15

Porto Velho Ala 6

Salvador Ala 14

Brasília Ala 1

Anápolis Ala 2

Grupo de Aviação

Grupo de Defesa Aérea

Grupo de Transporte de Tropa

Grupo de Transporte

Grupo de Aviação de Caça

Esquadrão de Transporte Aéreo

Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento

Grupo de instrução tática especializada

Campo Gr. Ala 5

Galeão Ala 11

S.Paulo Ala 13

Santa Cruz Ala 12

Santa Maria Ala 4

Canoas Ala 3

Norte

Tropas

por região

Nordeste

Centro-Oeste

Sudeste

Sul

Se todos os militares brasileiros estivessem enfileirados a 1 m de distância um do outro, formariam uma coluna de aproximadamente 150 m de largura por 2,4 km de comprimento. Isso equivale a cerca de cinco avenidas Paulista em São Paulo lado a lado

Exército

148 generais

31.249 oficiais

185.004 praças

Marinha

86 almirantes

12.623 oficiais

62.426 praças

Aeronáutica

87 brigadeiros

14.437 oficiais

52.904 praças

Nesta mesma escala, estes são os principais equipamentos usados pelas três Forças. Este é um inventário, não significa que todos os armamentos estão operacionais

Exército

89 Helicópteros

1.747 blindados

50 tanques leves

36 lançadores múltiplos de foguetes

296 tanques

1.845 peças de artilharia

Marinha

1 porta-helicóptero

75 helicópteros

44 navios costeiros*

8 fragatas

5 submarinos

18 tanques leves

Aeronáutica

48 aviões de ataque AMX

6 aviões-tanque/transporte

83 caças Super Tucano

72 helicópteros

44 caças F5

20 aviões de transporte médios

Em relação ao PIB, o gasto militar brasileiro ocupa a 7ª colocação na América Latina

As forças armadas brasileiras tem o 13º maior orçamento militar do mundo e o maior da América Latina**

despesa total do Ministério da Defesa chegou a R$ 108 bilhões em 2020 com crescimento expressivo do gasto com pessoal

Mais da metade da despesa com pessoal do Ministério da Defesa em 2020 é destinado à inativos e pensionistas

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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