Retrato da inépcia
Datafolha explicita subnotificação de infecções por Covid e incompetência do governo em monitorá-las
Isso equivale a quase o dobro dos lançamentos apontados no painel oficial do Ministério da Saúde —que, de forma inadmissível, permanece desatualizado desde 9 de dezembro de 2021.
Em quase dois anos de pandemia, o governo federal foi incapaz de formular uma regra única para o envio e a contabilização de casos registrados nos estados e municípios, amplificando as falhas no registro das estatísticas. Por incompetência ou má-fé, o Brasil talvez nunca saiba quantos de fato adoeceram e morreram na pandemia.
Desde o início, menosprezando o risco que a Covid-19 representava, o governo Bolsonaro também ignorou recomendação de especialistas e da Organização Mundial da Saúde de promover a testagem em massa para acompanhar a evolução da doença e embasar decisões cruciais, como a compra de insumos médicos —a exemplo do oxigênio que faltou em Manaus— e a abertura de leitos de UTI para a internação de doentes graves.
Na contramão da ciência, torrou dinheiro público na fabricação da ineficaz cloroquina e incentivou aglomerações que só ajudaram a espalhar um vírus que não teve a capacidade de monitorar.
Não satisfeito, Bolsonaro agiu enfaticamente contra a vacinação infantil, contrariando novamente a ciência e o anseio da população por proteção —pois, segundo o Datafolha, nada menos do que 79% dos brasileiros apoiam a imunização de crianças de 5 a 11 anos.
Finalmente vencido pela realidade, seu governo acabou contratando —sem licitação e por R$ 62,2 milhões— uma empresa inexperiente para a distribuição dos imunizantes infantis, que chegaram a ser transportados em caixas de papelão recheadas com gelo.
Com 69% dos brasileiros imunizados, o pior da pandemia pode até ter ficado para trás. Mas, infelizmente, ainda resta quase um ano do pior governo que o Brasil já teve.