Governo corta investimentos para o menor nível da história e mantém orçamento secreto intocado

By | 24/01/2022 6:06 pm

Presidente Jair Bolsonaro manteve as despesas de R$ 16,5 bilhões com as emendas parlamentares do orçamento secreto enquanto os investimentos federais caíram para R$ 42,3 bilhões

(Daniel Weterman,nO Estadão, 24 de janeiro de 2022)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) blindou as emendas do orçamento secreto ao sancionar o Orçamento de 2022 e cortou os investimentos ao menor nível da história, um total de R$ 42,3 bilhões. O governo decidiu priorizar os recursos de maior interesse eleitoral de aliados, como o Auxílio Brasil, o fundo eleitoral e as verbas do RP-9.

O presidente deu aval aos R$ 16,48 bilhões em recursos do orçamento secreto aprovados pelo Congresso em dezembro. O esquema distribuiu dinheiro federal a aliados políticos em troca de apoio com menos transparência nos dois últimos anos, como revelado pelo Estadão, e foi considerado irregular pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

No total, as emendas parlamentares vão somar R$ 35,6 bilhões em 2022 após os vetos, que ainda podem ser derrubados pelo Congresso. Além do RP-9, estão na conta as emendas indicadas individualmente por cada deputado e senador, pelas bancadas estaduais e pelas comissões. No Executivo, o controle sobre a distribuição dos recursos ficará nas mãos da Casa Civil, pasta comandada pelo Centrão, que já tem o maior poder no Legislativo.

O governo também decidiu manter o fundo eleitoral em R$ 4,96 bilhões em 2022, sem pedir um acréscimo para R$ 5,7 bilhões, como cogitado anteriormente. Ainda assim, a verba representa um volume de recursos públicos recorde para irrigar campanhas eleitorais. O chamado “fundão” destinou R$ 1,7 bilhão para a eleição de 2018 e R$ 2 bilhões em 2020. Ou seja, os partidos políticos terão mais do que o dobro dos valores destinados nas últimas eleições para financiar os candidatos em 2022.

Investimentos

Com os vetos do presidente Jair Bolsonaro, a verba para investimentos federais caiu ainda mais e ficou em R$ 42,3 bilhões em 2022, o menor nível da história, conforme levantamento do Estadão/Broadcast. O recorde negativo já havia sido observado no projeto aprovado pelo Congresso Nacional em dezembro (R$ 43,5 bilhões) , mas ficou ainda menor.

Do total de investimentos previstos para 2022, 40% será controlado pelo Congresso Nacional. Em uma análise sobre as despesas contempladas, é possível observar as prioridades: os ministérios que terão mais dinheiro para investir serão os da Defesa (R$ 8,8 bilhões), estratégico para Bolsonaro, e do Desenvolvimento Regional (R$ 7,5 bilhões), irrigado com emendas do orçamento secreto. Ficarão para trás Infraestrutura (R$ 6,5 bilhões), Saúde (R$ 4,6 bilhões) e Educação (R$ 3,4 bilhões).

A queda nos investimentos públicos abriu caminho para uma articulação que envolve retirar essas despesas do teto de gastos a partir de 2023. A proposta de mexer novamente na âncora fiscal entrou na campanha dos principais pré-candidatos a presidente em outubro, incluindo o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A medida divide especialistas. “O que eu defendo é pior, é extinguir o teto. Não adianta só tirar o investimento”, afirmou o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas.

 

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O presidente Jair Bolsonaro; emendas do orçamento secreto foram todas mantidas na lei orçamentária Foto: Ranu Abhelakh/REUTERS – 20/01/2022

Raul Velloso calcula que a taxa de investimentos públicos em infraestrutura caiu de 3,9% do Produto Interno Bruno (PIB) em 1980 para 0,67% do PIB em 2019. Enquanto o Brasil investia em média 4,7% do PIB na década de 1980, o PIB cresceu 3,6%. De 1991 em diante, os índices caíram para 2,2% e 2,3%, respectivamente. “O Brasil não vai crescer se não expandir os investimentos”, disse o economista.

Para o especialista em infraestrutura Claudio Frischtak, seria necessário um investimento de aproximadamente 4,1% do PIB durante duas décadas para modernizar a infraestrutura do País. Hoje, o nível de investimentos públicos e privados está em 1,6%. “Com cobertor curto, em certa medida quem grita mais alto leva. De um lado, temos um grande volume de emendas, das quais a de relator é a mais distorcida, pela falta de transparência, e do outro o fundo eleitoral. A mistura desses dois acaba empurrando ainda mais os investimentos para um cantinho”, afirmou Frischtak.

Raul Velloso defende a substituição do teto por uma meta de dívida pública, em que esse índice possa ser inclusive revisto o aumento de despesas. Na opinião de Raul Velloso, o teto de gastos e a distorção das emendas do orçamento secreto complicam ainda mais o cenário das contas públicas. “É preciso olhar o mérito, e não o número. Em vez de usar o dinheiro para investir, estão usando para fazer coisas que ninguém sabe o que é. A responsabilidade fiscal tem que ser avaliada de uma forma diferente.”

Friscktak, no entanto, é contra mexer no teto de gastos. Ele defende duas reformas para recuperar os investimentos: melhorar as regras do Orçamento, acabando com as emendas do orçamento secreto, e a governança das despesas, considerando o retorno social dos gastos. “Temos dois grandes problemas: um volume muito limitado de investimentos e a má alocação. É um grande erro mexer no teto porque aderir ao teto força a fazer algo que ninguém gosta, que são escolhas. Se uma alteração for proposta com esse Congresso que o Executivo entregou o poder de gestão da economia e lavou as mãos, a emenda vai sair infinitamente pior que o soneto.”

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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