Congresso derruba veto de Bolsonaro à distribuição gratuita de absorventes

By | 11/03/2022 8:22 am

Derrubada ocorreu dois dias após presidente assinar decreto com teor semelhante, em tentativa de diminuir sua rejeição junto ao público feminino

O Congresso derrubou nesta quinta-feira (10) o veto do presidente Jair Bolsonaro (PL) à política de distribuição de absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade e estudantes de baixa renda.

A derrubada ocorreu dois dias após o presidente assinar decreto que prevê a distribuição gratuita de absorventes, em uma tentativa de diminuir sua rejeição junto às mulheres, no ano em que buscará se reeleger.

Na Câmara, o veto foi rejeitado por 426 a 25. No Senado, o placar foi de 64 a 1. A derrubada do veto só ocorre por decisão da maioria absoluta de deputados (no mínimo, 257) e senadores (ao menos 41). Quando não há esse quórum mínimo em uma das Casas, o veto é mantido.

Mesmo com o decreto, o Congresso manteve a decisão de rejeitar o veto de Bolsonaro. Um dos motivos apontados foi a maior abrangência da lei, que, na avaliação de parlamentares, contemplaria ao menos três milhões de mulheres a mais que a medida editada pelo chefe do Executivo.

A deputada chamou o decreto de Bolsonaro de eleitoreiro. “Menciona programas, publicidade, mas não diz exatamente que mulheres serão beneficiadas, não diz de onde sairá o recurso, mas diz que o programa não vai existir se não tiver recurso. Ou seja, não diz nada”, afirmou.

Em outubro, Câmara e Senado aprovaram projeto de lei, de autoria de 35 deputadas, criando o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual.

O projeto de lei prevê como beneficiárias do programa estudantes de baixa renda de escolas públicas, mulheres em situação de rua ou em vulnerabilidade social extrema, mulheres apreendidas e presidiárias e mulheres internadas em unidades para cumprimento de medida socioeducativa.

Segundo os autores, o programa beneficiará cerca de 5,6 milhões de mulheres. A estimativa de impacto fiscal era de R$ 84,5 milhões por ano, recursos que sairiam do SUS (Sistema Único de Saúde) e do fundo penitenciário, no caso das detentas.

Bolsonaro sancionou a proposta, mas vetou a sua principal medida: a distribuição dos absorventes para mulheres de baixa renda e em situação de vulnerabilidade.

Ao vetar o programa, o governo federal argumentou que a proposta contrariava o interesse público, “uma vez que não há compatibilidade com a autonomia das redes e estabelecimentos de ensino. Ademais, não indica a fonte de custeio ou medida compensatória, em violação ao disposto”, afirma a justificativa ao veto.

Em live logo após vetar a medida, o presidente ironizou a reação à sua decisão. “A gente vai se virar e vamos aí estender o ‘auxílio Modess’ —é isso mesmo, ‘auxílio Modess’, absorvente?— para todo mundo”, disse o presidente, em referência à marca do produto.

“Se o Congresso derrubar o veto —estou torcendo para que derrube—, eu vou arranjar absorvente. Porque não vai ser gratuito, pessoal. Calcularam aqui um pouco mais de R$ 100 milhões. Pode ter certeza, vai multiplicar por três isso daí, vou ter que arranjar R$ 300 milhões de algum lugar. Eu não vou criar imposto para suprir isso aí, nem majorar imposto. Eu vou tirar de algum lugar. Agora a imprensa vai bater em mim que ‘[Bolsonaro] cortou da Saúde, da Educação’, [mas] não vai dizer para onde foi. Vai ser para atender a derrubada do veto dos absorventes”.

Na última terça-feira (8), em cerimônia de homenagem ao Dia da Mulher no Palácio do Planalto, Bolsonaro editou o decreto prevendo a distribuição gratuita de absorventes.

No evento, Bolsonaro disse que a mulher está “praticamente integrada” à sociedade. “Minha mãe foi também uma empreendedora. Lá naquele meu tempo, é história, ou a mulher era professora ou dona de casa, dificilmente uma mulher fazia algo diferente disso. Lá nos anos 1950, 1960. Hoje em dia as mulheres estão praticamente integradas à sociedade. Nós as auxiliamos. Nós estamos sempre ao lado dela. Não podemos mais viver sem ela”, afirmou.

O texto diz que o objetivo é combater a precariedade menstrual, ou seja, a falta de acesso a produtos de higiene e a outros itens necessários durante a menstruação ou a falta de recursos que possibilitem a sua aquisição.

Além disso, prevê garantia de cuidados básicos de saúde e o desenvolvimento de meios para a inclusão das mulheres em ações e programas de proteção à saúde menstrual.

De acordo com o decreto, ficará a cargo do Ministério da Justiça e Segurança Pública implementar projetos, programas e ações voltadas à disponibilização de absorventes para presas. Já o MEC (Ministério da Educação) deverá promover, em colaboração com estados e municípios, campanha informativa nas escolas da rede pública de ensino sobre a saúde menstrual e as suas consequências para a saúde da mulher.

O decreto estabelece que a execução do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual ficará condicionada à disponibilidade orçamentária e financeira.

Na terça, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o secretário de Atenção Primária, Raphael Câmara, disseram a jornalistas que o decreto incluiria a previsão de R$ 130 milhões do orçamento do Ministério da Saúde, e contemplaria 3,6 milhões de mulheres.

Levantamento da Folha mostrou que apenas duas capitais, São Paulo e Curitiba, além do Distrito Federal, realizam a distribuição do absorvente para a população de rua de forma ampla.

O restante das capitais realiza a distribuição só nos centros de acolhimento ou então nem possui políticas relacionadas ao problema da pobreza menstrual. Há ainda três capitais, Boa Vista, Natal e Porto Velho, que possuem um projeto aprovado, mas que ainda não está em vigor.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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