Dirigentes querem evitar dispersão de votos contra Lula e Bolsonaro, mas não descartam conversa unilateral com PDT
Dirigentes da União Brasil defendem chamar o pré-candidato Ciro Gomes (PDT-CE) para a rodada de conversas entre partidos que discutem lançar nomes da chamada terceira via para disputar a Presidência da República.
União Brasil, MDB e PSDB têm mantido conversas sobre uma candidatura única. O presidente da nova legenda (resultado da fusão de PSL e DEM), Luciano Bivar, disse em reunião com deputados na quarta-feira (16) que o presidenciável poderia se sentar à mesa das discussões caso quisesse.
Da mesma forma, disse aos parlamentares que pretendia chamar o ex-ministro Sergio Moro (Podemos) para negociar com as outras siglas que tentam buscar convergência na disputa ao Palácio do Planalto.
Nesta semana, Bivar voltou a conversar com Moro e discutiu rapidamente os critérios que cada sigla quer apresentar para definir o candidato.
Apesar de Bivar admitir conversar com Ciro, alguns aliados do dirigente consideram praticamente nula a chance de ele vir apoiar o integrante do PDT por causa de divergências ideológicas. Outra ala da União Brasil, porém, não descarta conversar unilateralmente com Ciro.
O tema foi levantado por ACM Neto, que busca o apoio do PDT à sua candidatura ao Governo da Bahia. O secretário disse que não fazia sentido conversar com apenas uma ala das siglas que querem uma alternativa ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a Jair Bolsonaro (PL).
ACM Neto argumentou que a União Brasil é um partido grande, que agrega tempo de TV e que tem um fundo eleitoral robusto, de acordo com relatos. Por isso, alegou, não há porque eles só conversarem com MDB e PSDB.
Dirigentes da União Brasil dizem que nada impede, inclusive, que o partido decida apoiar Ciro.
Em 2018, o DEM, que se juntou ao PSL para fundar a União Brasil, discutiu o apoio ao pré-candidato do PDT, mas acabou dando respaldo à candidatura de Geraldo Alckmin (ex-PSDB, sem partido hoje).
Outros integrantes da União Brasil também defendem a participação do candidato do PDT na mesa de negociações.
“Qualquer discussão que trate de terceira via tem que incluir a todos, inclusive o Ciro, para depois afunilar em torno de um nome”, diz o líder da sigla na Câmara, Elmar Nascimento (União Brasil-BA).
“Se tiver quatro candidaturas [mais à frente], estaremos ajudando a consolidar um segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Aí é melhor cada partido ter o seu e fazer sua escolha entre um dos dois”, avalia.
A ideia é que Bivar se lance como pré-candidato após 2 de abril, a partir de quando acaba a janela partidária —período em que os deputados podem migrar de uma sigla para outra sem prejuízos ao mandato.
Pelas tratativas com MDB (que tem Simone Tebet como pré-candidata) e PSDB (que aprovou em prévias João Doria para a disputa ao Planalto), em meados do ano haveria a análise de qual é o nome mais competitivo para definir quem será o candidato.
Caso Bivar não se consolide, como é a tendência, o deputado buscaria a vaga de vice em uma chapa.
O núcleo duro da campanha de Bolsonaro ainda tenta fechar uma aliança com a União Brasil, mas a possibilidade é tratada como pequena entre os líderes da legenda.
Durante os encontros com correligionários nesta semana, Bivar chegou a dizer que não votará em Bolsonaro sob nenhuma hipótese.
Em meio às discussões, dirigentes já buscaram aliados de Ciro para uma aproximação.
“Temos alianças em vários estados. Eles ainda estão indefinidos [sobre o apoio à terceira via], estão discutindo internamente”, diz.
Segundo Lupi, a aliança pode se dar em palanques como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Santa Catarina e na Bahia. Lupi diz que Ciro deixa as negociações sobre apoio a cargo do partido.
Apesar de não terem conversado sobre a possibilidade de o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) migrar para o PSD com o intuito de concorrer à Presidência, dirigentes da sigla também não rechaçam incluí-lo nas negociações.
O problema, dizem, é que Gilberto Kassab, presidente do PSD, nunca os procurou para tratar do assunto.
Já Moro, embora tenha o apoio de boa parte da União Brasil, sobretudo de deputados oriundos do PSL, tem forte rejeição por outra ala da sigla, que considera pequena a chance de apoiá-lo.
De todo modo, o acerto na União Brasil é que os candidatos a governadores ficarão livres para apoiar quem quiserem ou para ficarem neutros independentemente do presidenciável que o partido venha a apoiar.
ACM Neto, por exemplo, pretende ficar neutro na disputa. Na Bahia, o candidato com mais intenções de voto é Lula. Por isso, ele pretende se abster de se posicionar na corrida nacional.
Já o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), em Goiás, que disputará a reeleição, pode decidir apoiar Bolsonaro.
A prioridade para uma parte da cúpula do partido é eleger governadores e fazer uma bancada grande no Congresso, em detrimento da disputa presidencial.
Na última pesquisa do Datafolha, divulgada em dezembro, Moro aparecia com 9% das intenções de voto, enquanto Ciro tinha 7% e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), havia alcançado 4%. O cenário é liderado pelo ex-presidente Lula, isolado com 48%, enquanto Bolsonaro tinha a preferência de 22%.
Na União, o nome de Ciro tem mais apoio em uma negociação do que o de Moro, que enfrenta reservas de uma ala do partido de Bivar e ACM Neto. Além disso, Moro perdeu força nas barganhas após uma crise que colocou em risco o palanque regional mais consistente do ex-ministro de Bolsonaro.
O vazamento de áudios sexistas forçou o deputado estadual Arthur do Val a abrir mão da pré-candidatura ao Governo de São Paulo. Para não ficar completamente desidratado no estado, Moro passou a defender a candidatura da presidente do Podemos, a deputada Renata Abreu (SP), ao Palácio dos Bandeirantes.
Na terça-feira (15), Moro também reconheceu discussões para unificar a chamada terceira via.
“Há uma conversa no sentido de ter uma candidatura única entre vários partidos. Não sabemos se isso vai evoluir, mas há uma expectativa de que sim, se possa ter a construção de uma candidatura única de centro contra os extremos políticos”, disse.
Já o MDB, que também participa das conversas sobre uma candidatura única, defende que o nome seja o da senadora Simone Tebet (MS) –que aparece com 1% na pesquisa Datafolha de dezembro.
Nossa opinião
Não tem nenhum sentido a tentativa de construir a terceira via, se não houver um compromissos de todos os envolvidos se juntarem ao redor do candidatos que for escolhido como terceira via. Só assim ele terá condições de se tornar competitivo e capaz de provocar um segundo turno, até com a possibilidade de o candidato escolhido ser um dos dois concorrentes. O ideal, seria que Bolsonaro fosse alijado do segundo turno. (LGLM)