Exclusivo: Coronel com alto cargo no governo Bolsonaro empresta conta bancária a Fabrício Queiroz, mostra documento
(Amaury Ribeiro Jr., Guilherme Mazieiro, no Intercept Brasil, 25/04/2022)
Um coronel da reserva do Exército indicado assessor da presidência da Casa da Moeda do Brasil pelos generais do governo Bolsonaro cultiva há duas décadas uma relação de confiança mútua com Fabrício Queiroz. Ele mesmo, o acusado de operar o esquema milionário das rachadinhas do filho 01, o senador Flávio Bolsonaro, do PL do Rio.
O coronel Washington Luiz Lima Teixeira é o primeiro elo claro entre um militar com cargo no alto escalão do governo Bolsonaro com Queiroz, homem-bomba do clã presidencial. As relações entre os dois incluem a venda de um imóvel e uma procuração em que o coronel Teixeira deu a Queiroz “amplos poderes” para operar suas contas bancárias pessoais na Caixa.
Graças ao apoio do que chamou, em entrevista ao Intercept, de “um grupo seleto [de oficiais] dentro da força”, Teixeira, 61 anos, é assessor da presidência da Casa da Moeda desde novembro de 2020. Ali, ganha salário bruto de R$ 22 mil mensais. Ele diz ter sido escolhido diretamente pelo presidente da empresa e vice-almirante da reserva da Marinha, Hugo Cavalcante Nogueira.
As ligações do coronel Teixeira com Queiroz estão documentadas em cartórios do Rio de Janeiro. Ao longo das últimas seis semanas, pedimos cópias e analisamos 15 documentos. O mais intrigante deles é a procuração assinada em dezembro de 2009 pelo então coronel da ativa do Exército dando ao então assessor de Flávio Bolsonaro “amplos poderes” para operar suas contas bancárias pessoais. Ela segue válida, a julgar pela ausência de registros de seu cancelamento.
O documento está registrado no 8º Ofício de Notas, Centro do Rio, e torna oficial que o coronel Teixeira e sua mulher, Ana Maria de Medeiros Teixeira, nomearam Queiroz como procurador de ambos “junto e perante a Caixa, em quaisquer de suas agências e departamentos”.
O acordo dá a Queiroz poder para “acompanhar e dar andamento a processo habitacional, podendo abrir, movimentar e liquidar contas, tomar ciência dos despachos, cumprir exigências, juntar e retirar documentos, requerer, recorrer, concordar e ajustar condições do mútuo, pagar taxas de serviços, assinar os contratos necessários, ajustar preços, prometer comprar, comprar”.
O documento confere também a Queiroz o poder de efetuar saques bancários e assinar cheques das contas do coronel Teixeira. Além disso, o então assessor de Flávio ganhou o direito de usar como garantia para empréstimos “o imóvel situado na rua Baronesa”. Trata-se de um apartamento localizado em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, uma região controlada pela milícia, e que pertencia ao coronel. O imóvel foi vendido a Queiroz em uma transação que, segundo os documentos registrados em cartório, se prolongou por 19 anos e só teve desfecho justamente quando surgiram as primeiras reportagens sobre o escândalo das rachadinhas, em dezembro de 2018.
Atualmente, quem vive no apartamento é a Débora Melo Fernandes, ex-esposa de Fabrício Queiroz, segundo o que ele mesmo disse ao Intercept. Apesar disso, o registro geral do imóvel, que consultamos em 28 de março no 9º Ofício de Registro de Imóveis do Rio, ainda traz o nome de Teixeira como proprietário do apartamento.