Bolsonaro é ruim para os negócios

By | 14/06/2022 6:49 pm

Empresários precisam perceber que a ameaça do presidente de desobedecer ao STF e convulsionar o País é incompatível com um ambiente propício para empreender

O presidente Jair Bolsonaro foi aplaudido várias vezes por empresários reunidos em almoço na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) durante um discurso em que voltou a mentir sobre o sistema eleitoral, a atacar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a afirmar que não cumprirá decisões judiciais das quais discorda.

Bolsonaro é o que é – um caso perdido. Mas é bastante preocupante, até mesmo contraditório, que um grupo de empresários compactue com essa retórica desestabilizadora. O interesse explícito de Bolsonaro em convulsionar o Brasil, investindo no caos institucional e social, é incompatível com um ambiente propício para o desenvolvimento dos negócios.

Referindo-se ao julgamento do marco temporal para demarcação de terras indígenas, ainda a ser julgado pelo STF, o presidente tornou a afirmar que não cumprirá a ordem judicial a depender do que a Corte decida. “Se aprovar isso (a constitucionalidade do marco), o que eu faço? Decisão do Supremo não se discute, se cumpre. É isso?”, perguntou Bolsonaro à plateia. Em coro, os comensais reunidos na ACRJ responderam “não”.

É o caso de perguntar se aqueles empresários, de fato, concordam com essa desabrida ode à insegurança jurídica, tão nefasta para o florescimento da atividade econômica em qualquer país, feita por ninguém menos do que o presidente da República – que pretende ficar mais quatro anos no poder. Decerto é possível discordar de decisões judiciais, e aí está o extenso rol de recursos à disposição das partes de uma lide; descumpri-las, no entanto, é algo inconcebível à luz do Estado Democrático de Direito consagrado desde o preâmbulo da Constituição. Se a desobediência parte do presidente da República em pessoa, trata-se de grave ruptura da ordem constitucional.

A mera menção à hipótese de descumprimento de ordens judiciais por parte do presidente deveria ser objeto de pronto e manifesto repúdio por parte dos empresários. Para quem investe tempo e capital para abrir ou expandir seus negócios, não há nada mais sagrado do que o respeito aos contratos – e o mais importante dos contratos numa sociedade genuinamente democrática é aquele pactuado entre os cidadãos na forma de sua Constituição.

Nesse contrato, está escrito, no artigo 102, que a “guarda da Constituição” é competência precípua do Supremo Tribunal Federal. Assim, goste-se ou não, a interpretação final dos termos do contrato constitucional é do Supremo. Desrespeitar ordens do Supremo, portanto, equivale a desrespeitar a Constituição. Se o “guardião da Constituição” é desacatado, “a integridade do sistema político, a proteção das liberdades públicas, a estabilidade do ordenamento normativo do Estado, a segurança das relações jurídicas e a legitimidade das instituições da República restarão profundamente comprometidas”, como salientou em decisão de 1999 o então ministro Celso de Mello.

Logo, como se vê, um presidente da República não poderia nem cogitar de desacatar ordens do Supremo, pois somente a menção a essa possibilidade tem o condão de causar instabilidade. Por esse motivo, é incompreensível que empresários, que deveriam desejar a estabilidade, aplaudam a mera hipótese de uma ruptura, por mais fundados que sejam seus receios em relação a uma possível vitória do principal adversário de Bolsonaro, o petista Lula da Silva.

O movimento racional que é esperado de empresários ciosos da situação do País foi visto em setembro do ano passado. À época, mais de 240 importantes entidades representativas de diversos segmentos econômicos subscreveram um manifesto externando suas preocupações com a rusga entre Poderes da República e os reiterados ataques de Bolsonaro às instituições democráticas. São empresários que compreendem que a instabilidade política e jurídica pode ser muito boa para os interesses eleitorais do presidente-candidato, mas é péssima para o País e para os brasileiros. Vale dizer, são empresários que sabem muito bem que Bolsonaro é ruim para os negócios.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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