É profundamente desolador o quadro apresentado pela aprovação da PEC Kamikaze

By | 14/07/2022 6:59 am

É a miséria, estúpido

(William Waack, Jornalista e apresentador do programa WW, da CNNN, nO Estadão,

“Armadilha”, pois votar contra em nome de princípios significava ficar mal com o eleitor. Votar a favor era prestar ajuda a Bolsonaro, ainda que os dividendos eleitorais da PEC sejam duvidosos. Entre princípios e caridade, mesmo a oposição séria e genuína a Bolsonaro se agarrou a uma frase: “É a miséria, estúpido”.

Pode-se dizer que não há sistema político que funcione quando, na base, o que persiste é doença, miséria e ignorância.
Pode-se dizer que não há sistema político que funcione quando, na base, o que persiste é doença, miséria e ignorância. Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

É uma constatação indiscutível, e profundamente perturbadora. Durante a vigência do auxílio emergencial o Brasil teve significativa mudança de patamar de renda. De lá para cá a situação só piorou. “Eu discutia como votaria no caso da PEC, mas aí parei num sinal de trânsito, dei R$ 20 para uma família ali acampada e ouvi deles como esses R$ 20 eram tão decisivos para as crianças deles, aí votei a favor”, disse um senador da velha-guarda política, e ferrenho opositor do governo.

Combate à desigualdade é frase de uso político desvinculada de um consenso nas elites dirigentes sobre a necessidade de se diminuir miséria, doença e ignorância. Não se trata de uma “maldade” pensada pelas “classes dominantes”, como pretende o submarxismo que domina boa parte do ensino superior. Trata-se de uma “sociedade invertebrada” que não percebe quanto é refém da miséria que se mostra incapaz de eliminar.

É bastante óbvio que a “sensibilidade social” de dirigentes políticos se torna mais aguda na época de pedir votos, o que não é uma peculiaridade brasileira. No fundo, a aprovação da PEC traduz um cenário abrangente muito mais preocupante do que a indisciplina fiscal, o desrespeito claro à institucionalidade (muda-se a Constituição ao sabor do momento político imediato) e a burla às normas eleitorais.

Em termos sociais, o “estado de emergência” com a qual se justificam as bondades eleitoreiras é o de um país que voltou ao mapa da fome, enquanto se gaba de ser campeão mundial de produção de alimentos. Não importa a denominação política do governante de plantão, discutem-se, no fundo, as mesmas mazelas de sempre. Pode-se dizer que não há sistema político que funcione quando, na base, o que persiste é doença, miséria e ignorância.

Nesse sentido, “emergência” é nosso estado permanente.

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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