O presidente Jair Bolsonaro sofre da síndrome do cobertor curto na eleição: quando melhora daqui, piora dali e essa soma zero é a favor do ex-presidente Lula, que atravessa toda a campanha numa dianteira confortável e está com 14 pontos de vantagem, segundo o Agregador de Pesquisas do Estadão, com a possibilidade, difícil, não impossível, de vitória em primeiro turno.
Bolsonaro foi de 19% para 24% entre os nordestinos, pelo Datafolha, mas está 35 pontos atrás de Lula no Nordeste e 15 pontos no Sudeste e as duas regiões reúnem 70% do eleitorado brasileiro. Ele também ganhou seis pontos entre as mulheres, mas perdeu quatro entre os homens. Ficou elas por elas, ou eles por elas.
Se o presidente melhorou um tantinho entre os de menor renda, Lula compensou entre os mais ricos. E, se Bolsonaro é o preferido dos evangélicos (43% a 33%), Lula é o dos católicos, com margem bem maior (52% a 25%), e tem 51% dos espíritas.
Com 53% de rejeição, ante 36% de Lula, Bolsonaro tem dificuldade para reduzir drasticamente a diferença para o petista e até a bomba contra mensalão e petrolão perdeu impacto: 73% dos eleitores veem corrupção no seu governo, fica o sujo falando mal do mal lavado. Além disso, o eleitor de 2022 está mais preocupado com saúde, educação, economia e violência e, assim, o foco sai da corrupção e vai para uma seara mais confortável para Lula, que em 2010 deixou 7,5% de crescimento, inflação baixa, emprego e autoestima nacional em alta.
Bolsonaro ensaia a reação em duas frentes: as benesses da PEC da Reeleição e a melhora na economia. Em agosto vêm aí os R$ 600 de Auxílio Brasil e os R$ 1.000 para taxistas (cabos eleitorais nas cidades) e caminhoneiros (nas estradas). Se Michelle Bolsonaro mexeu no eleitorado feminino e pobre orando na convenção do PL, imaginem R$ 200 para comida.
Na economia, inflação e juros corroem a renda, o superávit vem de receitas extraordinárias e adiamento de precatórios, os lucros da Petrobras são “estupro” e há fome e cheiro de golpe no ar. A economia reage, porém, com desemprego abaixo de 10%, superávit primário de R$ 14,4 bilhões, dividendos de mais de R$ 30 bilhões da Petrobras para a União e duas quedas no preço da gasolina. Logo, a guerra vai para a economia, o social e… democracia.
Para vencer no primeiro turno, Lula precisa ter mais de 50% dos votos válidos e perde um ponto a cada mês (tinha 54% em maio, 53% em junho e 52% em julho), correndo o risco de chegar em outubro abaixo do necessário. Logo, precisa impedir o crescimento de Bolsonaro e atrair os indecisos e o “voto útil”, que é sempre favorável a quem lidera.