Piso da enfermagem causará desemprego e piora do serviço

By | 10/08/2022 1:47 pm

Medida prejudica os menos qualificados, os mais jovens e as regiões mais pobres

 

Helio Beltrão, Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil, na Folha em

 

Helio Beltrão
Foi promulgada a lei que estabelece um piso salarial nacional para enfermeiros (R$4.750), técnicos de enfermagem (R$3.325) e auxiliares de enfermagem e parteiros (R$2.375).

Os legisladores estão plenamente convencidos de que o piso salarial é benéfico aos atuais e futuros profissionais de saúde e até alteraram a Constituição para conferir segurança jurídica adicional. Nada de brechas para malabarismos hermenêuticos do Supremo.

Ocorre que o piso é mais uma medida populista com consequências nefastas: prejudicará tanto os trabalhadores de saúde quanto os usuários de serviços de saúde e do SUS.

Enfermeiros do Hospital do Servidor Publico Estadual de São Paulo
Trabalho dos enfermeiros do Hospital do Servidor Publico Estadual de São Paulo – Eduardo Tarran

Em geral políticas de “valorização” de profissionais por decreto, independentemente da profissão, contam com o efusivo apoio de gente bem-intencionada. Afinal, quem discordará de valorizar determinada profissão? No entanto, desgraçadamente, tais políticas prejudicam justamente os menos qualificados, os mais jovens e as regiões mais pobres de nosso extenso país. E beneficiam as regiões mais ricas e as grandes redes hospitalares, que praticam médias salariais maiores para profissionais mais bem qualificados.

Haverá mais trabalhadores procurando vagas mais escassas. Consequentemente, os empregadores passam a priorizar os funcionários experientes e com alta produtividade, cortam benefícios não obrigatórios e aumentam o staff de cuidadores (que não têm piso por lei). A qualidade do atendimento ao usuário tende a piorar. As vagas que sobreviverem serão preenchidas por profissionais que tiveram mais oportunidades de estudo e mais experiência, deslocando os mais simples.

Mais severamente afetadas serão as organizações de saúde filantrópicas como as Santas Casas, em particular de regiões mais pobres. Portanto, a oferta de saúde aos mais pobres fora do SUS piorará. Adicionalmente, os gastos em saúde dos municípios e estados ficarão mais comprometidos com folha de pessoal, potencialmente prejudicando medicamentos e outros itens fundamentais. Em muitos estados, caso de Pernambuco, Acre e Paraíba, houve aumento imediato de mais de 100% na remuneração dos enfermeiros (os adicionais noturno e de insalubridade aumentam proporcionalmente) e ainda mais para os técnicos.

Munidos da teoria da exploração marxista como mantra, muitos pseudoanalistas imaginavam que não haveria demissões imediatas. Porém, ontem mesmo o Lar São Vicente de Paula de Novo Hamburgo (RS), que atende 43 idosos com idade média de 85 anos, anunciou a demissão de todos os 13 profissionais e o fechamento do setor de enfermagem. Neste primeiro momento, o lar convocou voluntários para atuarem como cuidadores. Como ficam os idosos? Nossos legisladores não pensaram nisso. Deu ruim, e com o tempo a coisa tende a piorar.

Na verdade, a esquerda, os bolsonaristas e o centrão caminharam de mãos dadas nesta caça aos votos dos profissionais de saúde e famílias. Apenas doze corajosos deputados –a bancada integral do Partido Novo e mais quatro solitários deputados– defenderam o real interesse da classe trabalhadora menos qualificada ao votar contra o piso.

Enquanto persistir a crença de que os salários podem ser determinados pelo governo por meio de considerações de ‘justiça’ em lugar de produtividade, oferta e demanda e processo competitivo, estaremos fadados a pavimentar o caminho do inferno com as vidas de profissionais que deixarão de obter o emprego que merecem.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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