Posse de Alexandre Moraes no TSE vira vigília em defesa da eleição – e resta a Bolsonaro assistir; veja análise

By | 17/08/2022 4:58 am

Ataques do presidente ao sistema eleitoral transformaram cerimônia numa resposta ao próprio chefe do Executivo

Não fosse a presidência de Jair Bolsonaro, a posse de Alexandre de Moraes seria apenas uma posse. As trocas de comando do Tribunal Superior Eleitoral costumam reunir algumas autoridades e uma fração do mundo jurídico em um evento rápido, protocolar, com pouco ou nenhum destaque na imprensa e na sociedade. Os ataques de Bolsonaro às eleições, no entanto, fizeram com que a cerimônia virasse uma resposta ao próprio presidente – que a tudo assistiu, de testa franzida e paralisado, em lugar de honra no plenário do tribunal.

A posse de Alexandre de Moraes é a segunda vigília cívica em defesa das eleições e do trabalho da Corte eleitoral em cinco dias. Mas, se na semana passada Bolsonaro pôde evitar a presença em São Paulo, onde era celebrada a “cartinha” pela democracia, desta vez assistiu a tudo em silêncio.

O ex-presidente e candidato a presidência pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, cumprimenta o ministro Alexandre de Moraes, que tomou posse como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff
O ex-presidente e candidato a presidência pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, cumprimenta o ministro Alexandre de Moraes, que tomou posse como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff Foto: Wilton Junior/Estadão

As cenas do plenário lotado de figurões da política nacional foram transmitidas ao em tempo real nos principais canais de notícia. Quatro ex-presidentes, dos seis que estão vivos, e 22 governadores de diferentes posicionamentos políticos viajaram a Brasília para demonstrar o respeito ao processo eleitoral, o mesmo que Bolsonaro questiona. Candidatos ao Planalto pararam suas campanhas para prestigiar a posse que se tornou uma ode às urnas eletrônicas. Sem a confiança da população no processo e nos árbitros do processo – leia-se, em Moraes – os candidatos sabem que de nada adianta buscar votos na rua.

Moraes foi longamente aplaudido (e deixou tempo para que fossem ouvidos os aplausos). É como se cada minuto a mais de palmas desse legitimidade ao seu trabalho. A plateia levantou quando, de cara, o ministro disse que o sistema eleitoral é um orgulho nacional. Bolsonaro olhava para o horizonte enquanto aquele que já chamou de “canalha” era ovacionado.

É raro imaginar uma cena em que Dilma Rousseff e Michel Temer dividem a mesma sala. Que Luiz Inácio Lula da Silva fala ao pé do ouvido do ex-presidente emedebista mesmo sob espiadelas do primeiro escalão do governo Bolsonaro, seu principal adversário na disputa eleitoral deste ano. Que José Sarney se junte a Dilma para evitar a saia justa de fazê-la sentar ao lado de Temer. Ou que uma posse de presidente do TSE faça a esvaziada Brasília pré-eleição reunir políticos de todos os espectros partidários e atraia as atenções da imprensa nacional.

Ao protagonizar ataques inéditos no período democrático, Bolsonaro tem sido o maior cabo eleitoral para uma reação também inédita.

Comentário

Comentário

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *