William Bonner e Renata Vasconcellos conduziram a entrevista com o candidato do PT nesta quinta-feira (25), às 20h30, com transmissão por TV Globo, Globoplay e g1.
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Lula no JN — Foto: Marcos Serra Lima/g1
O Jornal Nacional entrevistou ao vivo nesta quinta-feira (25) Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à Presidência da República. Na análise de colunistas do g1 e da GloboNews, o líder nas pesquisas de intenção de voto tentou falar a um público mais amplo do que aquele que costuma atingir e “foi firme nas respostas em relação ao seu ponto fraco, a corrupção”, passando “uma impressão de convicção”.
Além disso, avaliam, citou diversas vezes – e de forma espontânea – o vice de sua chapa, Geraldo Alckmin (PSB), no que pode ser visto como um aceno “em relação a um deslocamento para o centro e a um governo de aliança”. Na análise deles, o petista mostrou “uma disposição para conquistar o eleitor indeciso, visto como estratégico” e “admitiu os erros da Dilma”, mas reconstruindo esse “passivo para que a retórica funcionasse” (veja comentários mais abaixo nesta reportagem).
A estreia ocorreu nesta segunda-feira (22), com Jair Bolsonaro. O presidente, que disputa a reeleição, repetiu mentira sobre urnas eletrônicas, disse que aceitará o resultado das eleições “desde que sejam limpas e transparentes” e defendeu aliança com o Centrão.
Nesta terça-feira (23), foi a vez de Ciro Gomes (PDT), que prometeu reavaliar tom das críticas a adversários para reconciliar o país e propõe plebiscitos diante de impasses.
A próxima entrevistada vai ser Simone Tebet (MDB), nesta sexta-feira (26).
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Veja, abaixo, comentários de colunistas sobre a entrevista de Lula ao JN:
Andréia Sadi
“Você fala que ele citou, nas suas contas, nove vezes [o nome do Alckmin]. Depois, ele fala do Alckmin também acenando para a articulação política, quando ele fala de formar bancadas. Então, ele também está apontando o que ele espera do Geraldo Alckmin como vice, se ele de fato for eleito. Primeiro, é convencer esse eleitor médio, de setores médios, inclusive com esse discurso de enfrentar a corrupção, que sempre foi de fato um ponto sensível para o PT…”
“Mas ele assume a Dilma, esse é o resumo. Ele diz que foi grato a ela, fala dela na Casa Civil, depois fala que o primeiro mandato da Dilma foi extraordinário. […] Aí, nesse segundo mandato, aí começaram os erros.”
Julia Duailibi
Julia Duailibi comenta entrevista de Lula ao JN
“É um eleitorado muito estratégico, e ele tinha um discurso específico para esse eleitor, que foi já, enfim, explorado desde terça-feira, quando ele se reuniu com o núcleo mais próximo para discutir a estratégia da entrevista. O que era? Falar o que foi feito em termos institucionais. Ele cita aquela lista, coloca a Lei de Acesso à Informação, a entrada da CGU, da AGU e tudo o mais. E uma declaração que é bastante simbólica, importante, que é a seguinte e aparece lá no meio da entrevista: ‘Não se pode dizer que não teve corrupção, se as pessoas confessaram’.”
“Junto com essa estratégia toda, de chegar ao eleitor indeciso, está tentar evitar que esse eleitor chegue a Bolsonaro. E aí, quando [Lula] fala dos mecanismos de controle da corrupção, cita, e aí de maneira bem rápida, o os decretos de sigilo que foram editados presidente Bolsonaro, e que ele [Lula] sugere que são para favorecer os filhos e aliados. Nesse ponto, eu conversei com integrantes do partido, ele deveria ter explorado mais isso e deixado mais vinculado à imagem do presidente Bolsonaro.”
Merval Pereira
Merval Pereira comenta entrevista de Lula ao JN
“Essa questão de ser o pai dos pobres é a imagem que o Lula quer deixar clara para o eleitorado que é cativo dele: o eleitorado de baixa renda. Ele falou isso porque é o que ele quer ser para esse eleitorado. Agora, tem algumas questões interessantes. Primeiro, foi a primeira vez que ele admitiu que houve corrupção. Até agora ele dizia que não houve mensalão, que não houve petrolão, que não houve nada… Teve que admitir. Agora, ele finge que não tem nada a ver com isso. É impressionante que ele tenha admito a corrupção daquele tamanho no governo dele, e que ele não tem nada a ver com isso. ‘Prende. Prende quem quiser, menos eu’. É explicável, né? Dá para entender. Mas é o máximo que ele pode chegar ao mea culpa, que seria uma atitude desejável, não é?”
“E eu acho que ele foi bem. Não há por que não achar que ele não foi bem. Ele foi muito bem, foi enfático, explicou as coisas do ponto de vista dele muito bem explicado. Agora, ele vai ter que retomar toda essa discussão durante a campanha eleitoral. Porque vão bater de novo no mensalão, no petrolão… Ele dizer que o Orçamento Secreto é mais grave que o mensalão… Tudo bem, pode ser mais grave, é pior porque oficializou a corrupção.”
“Agora, o governo PT, no mensalão e no petrolão, também usou de mecanismos de corrupção para ganhar o apoio do Congresso. Não vejo como dizer que é melhor ou pior, é a mesma coisa. É interessante, que ele está usando a mesma coisa do Ciro: vai querer usar os governadores e os prefeitos para pressionar o Congresso, para se livrar desse controle do Congresso, que é um controle que até agora não é possível contestar. E é difícil um presidente mudar isso, porque qualquer coisa ele faça, é o Congresso que tem que aprovar.”
Flávia Oliveira
Flávia Oliveira comenta entrevista de Lula ao JN
“[Lula adotou] Uma estratégia que incorpora mais uma dimensão da crise econômica no projeto de governo. Sem dúvida, Ciro faz essa ênfase, desde 2018, na verdade, não é nem uma agenda desta eleição. Mas é uma dimensão da crise econômica que não vinha sendo contemplada pelo candidato petista, como não é pelo Jair Bolsonaro, essa do endividamento das famílias e do quanto o orçamento está apertado. Não somente pela deficiência da política social e da crise econômica mais ampla, mas também por essa dimensão do endividamento, que inclusive é algo que tende a se agravar com os novos mecanismos de empréstimo, inclusive envolvendo os beneficiários do Auxílio Brasil.”
“Acho que a entrevista demarcou muito bem uma estratégia que a gente já vinha antecipando aqui, sobre o Lula trabalhar com a dimensão do sonho, da esperança, do futuro. Então, ele o tempo inteiro remete aos bons números, às boas políticas, lembra de universidades criadas, isso alcança os jovens, isso alcança as mães, o desemprego mais baixo, a inflação que voltou para a meta no primeiro mandato. Então, traz muito essa memória de uma outra realidade econômica.”
“Eu queria falar um tiquinho mais sobre a dimensão político-ideológica. Porque me parece que foi demarcada uma faixa, tanto quando fala do Alckmin tantas vezes, como admite corrupção, mas não se compromete, quando fala também de militância, Lula se desloca de um extremismo que está muito presente no debate público, como se ele e Bolsonaro fossem dois extremos opostos. Não são. E acho que isso ficou bastante demarcado nessa entrevista pelos acenos em relação a um deslocamento para o centro e a um governo de aliança, com dez partidos, como ele lembrou, e com o Alckmin.”
Monica Waldvogel
Monica Waldvogel comenta entrevista de Lula ao JN
“O que é muito interessante na retórica de Lula é que ele tem dois grandes passivos: o da corrupção (e da Lava Jato, da condenação e da prisão) e a gestão econômica do governo Dilma (sua indicação para o governo). Esses dois passivos foram muito bem, digamos, reconstruídos, para que a retórica dele funcionasse. E o que funciona bem com o Lula é que ele é capaz de construir uma alegação para explicar esses dois episódios muito negativos da história dos governos petistas, mas embrulhados na velha e boa retórica do Lula.”
“Ele é muito experimentado. Ele está dominando multidões desde que era líder sindicalista, em condições muito mais difíceis. É interessante, porque a gente percebe claramente que foi necessário arrumar esse discurso. Então, ele arrumou desta forma: ‘Houve corrupção, houve confissão, houve devolução de dinheiro, isso é inegável. Mas houve uma falha grave da Lava Jato. Eles levaram para o lado político e queriam me atingir’. Pronto, já está aqui, redondinha a argumentação que vai servir… Você pode fazer variações sobre essa versão até o final da campanha. Você vê que é uma construção racional para explicar aquilo que todo o Brasil viu recentemente.”
“Ele também admite o erro da Dilma. Da mesma forma como ele admite a corrupção, ele diz: ‘Ela se equivocou no congelamento de preços dos combustíveis e ela errou na desoneração’. São duas construções de equipe. […] O discurso está embrulhado nessa retórica que ele domina muito bem. Você tem a impressão da mais franca sinceridade, [que] aquilo está saindo de dentro dele. Mas a gente sabe que aquilo foi racionalmente arrumado para as circunstâncias.”
Mauro Paulino
Mauro Paulino comenta entrevista de Lula ao JN
“E Lula é mestre nisso, ele sabe muito bem se comunicar com a parte maior do eleitorado, que são aqueles que se identificam mais com ele, que têm menos escolaridade, uma renda menor e menos acesso à informação. Me parece que a impressão final que fica é que Lula foi bem e conseguiu atingir partes do eleitorado que não são tão afeitas a ele.”