Menos agressivo contra instituições, Bolsonaro politiza festa da Independência
Ao usar as celebrações do bicentenário da Independência como palanque da sua campanha à reeleição, Jair Bolsonaro (PL) apequenou as festividades a ponto de transformá-las num espetáculo indigno.
Numa data que requeria reflexão sobre os valores que unem a nação, os progressos alcançados em dois séculos e os desafios à sua frente, o presidente optou por fazer provocações, proferir grosserias e atacar adversários.
Pela manhã, falando à multidão que se reuniu para ouvi-lo após o desfile oficial em Brasília, ele atingiu o ponto mais baixo do dia ao fazer comentários machistas e se vangloriar da própria virilidade depois de elogiar sua mulher.
Quanto ao Supremo Tribunal Federal, o tom foi mais ameno do que o adotado nas manifestações de 7 de Setembro do ano passado, quando ofendeu ministros e ameaçou descumprir suas decisões.
Em Brasília e no Rio, Bolsonaro prometeu enquadrar os que jogam fora das balizas fixadas pela Constituição se for reeleito, mas em nenhum momento explicou o que exatamente faria ou nomeou os alvos da bravata.
Os presidentes do Supremo, da Câmara dos Deputados e do Senado não estavam lá para ouvir. Os três deixaram de lado o protocolo e ficaram longe do palanque brasiliense, expressando silenciosamente seu desagrado com a politização do evento oficial.
Se o objetivo de Bolsonaro era exibir força política e coletar imagens grandiosas para a propaganda eleitoral, ele decerto foi alcançado. Os limites da sua estratégia ficaram evidentes, porém, no tom e no conteúdo dos seus discursos.
Ele caracterizou a disputa eleitoral como uma batalha do bem contra o mal e preencheu suas falas com diversos acenos aos segmentos mais fiéis do seu eleitorado, porém não dirigiu nenhuma palavra aos eleitores que precisa conquistar para reduzir a distância que o separa de Lula.
Não houve também nenhuma menção às urnas eletrônicas, que até outro dia eram objeto de uma campanha de descrédito agressiva movida pelo presidente. Quase estacionado nas pesquisas, a poucas semanas do primeiro turno da votação, as opções de Bolsonaro parecem estar se esgotando.