Empate costuma favorecer quem está na frente
Atrás nas pesquisas de intenção de voto, tendo um paredão muito mais íngreme do que o de Lula para escalar, era Bolsonaro que precisava vencer o debate. E vencer com relativa folga.
Não aconteceu. À parte os blocos do debate onde jornalistas fizeram perguntas aos candidatos, o que de fato mais interessou aos espectadores foram os dois blocos onde eles se confrontaram.
Lutador mais experiente e hábil, Lula ocupou o centro do ringue, levou seu adversário às cordas e depois o derrubou. Bolsonaro pareceu surpreendido. Talvez não esperasse por isso logo de início.
Bolsonaro chegou nervoso aos estúdios da Band, em São Paulo. Disse que as últimas 24 horas tinham sido as piores da sua vida por ter sido acusado de pedofilia. Exagerou, certamente.
“Ganhamos. Agora, é só administrar a vitória”.
É de se imaginar que preze mais sua vida do que sua reeleição, mas nunca se sabe. O que Bolsonaro mais temia era que Lula explorasse o caso dele com as adolescentes venezuelanas.
Pintara um clima de que Lula não deixaria isso passar de graça, mas deixou e foi sábio. Bolsonaro foi pouco inteligente ao dar explicações sobre o caso, chamando mais atenção para ele.
Seu comportamento no primeiro bloco de confronto direto com Lula foi tão ruim que um dos seus filhos, à curta distância, aconselhou-o a mudar de assunto, e Bolsonaro anunciou:
“Vamos mudar de assunto”.
No segundo bloco, quando um voltou a perguntar ao outro, Bolsonaro esteve muito bem. Foi ele que deu a pauta: corrupção. E Lula não conseguiu disfarçar seu desconforto em falar sobre isso.
Falou além da conta, administrou mal o tempo, e deixou mais de 5 minutos para que Bolsonaro falasse sozinho. E, aqui, Bolsonaro, podendo faturar, cometeu mais um erro.
Que foi o de usar o tempo para dirigir-se unicamente aos que já o apoiam. Eleitores arrependidos de terem votado em Bolsonaro e que pensaram votar em outros nomes, já estão com ele de novo.
Foi tempo desperdiçado, para sorte de Lula.