(Débora Alvares, no Estadão, em
O arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, apelou à “calma e discernimento” em seu Twitter neste domingo, 16, ao se defender de acusações de apoio à esquerda por ter uma foto com roupa vermelha em seu perfil. Os trajes são típicos dos cardeais católicos. Dom Odilo fez uma comparação ao “fascismo” por causa de ataques que sofreu e alertou para as “consequências”.
”Tempos estranhos esses nossos! Conheço bastante a história. Às vezes, parece-me reviver os tempos da ascensão ao poder dos regimes totalitários, especialmente o fascismo. É preciso ter muita calma e discernimento nesta hora!”, escreveu no fim da tarde. “Se alguém estranha minha roupa vermelha (perfil), saiba que a cor dos cardeais é o vermelho (sangue), simbolizando o amor à Igreja e prontidão ao martírio, se preciso for. Deus abençoe a todos. Mas… ninguém machuque ninguém!”, completou.
O cardeal Scherer tem sido um crítico assíduo do que vem chamando de “instrumentalização da fé” para campanhas eleitorais. Ele e outros sacerdotes do clero brasileiro, além da própria Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), viraram alvo frequente de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. O papa Francisco também.
Em uma das mensagens, o arcebispo reforçou seus posicionamentos contra o aborto, que vai de encontro aos princípios cristãos. “Alguém tem dúvidas? Creio em Deus, em Jesus Cristo Salvador, amo a Palavra de Deus e da Igreja. Sou a favor da família, contra o aborto e toda violência contra a pessoa; não aprovo comunismo nem o fascismo; sou a favor da moral dos mandamentos de Deus. Estou em comunhão com o Papa…”.
A relação entre defesa do aborto e a esquerda tem sido amplamente explorada pela campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), que chegou a pinçar uma fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na qual ele defende que a interrupção da gravidez se torne uma política pública. Ontem, o Tribunal Superior Eleitoral proibiu a veiculação de peças na TV que sugerem amparo do petista ao tema.
“A fé em Deus permanece depois das eleições. Assim, os valores morais, a justiça, a fraternidade, a amizade, a família… Vale a pena colocar tudo isso em risco no caldo da briga política? Depois das eleições, todos precisam continuar a viver juntos”, escreveu o clérigo.