O ex-presidente Lula segue favorito, com sólidos 49% de intenção de votos nas três pesquisas Datafolha do 2.º turno, e os ventos em segmentos importantes ainda não são prenúncio de uma tempestade perfeita contra ele. Esses ventos, porém, empurraram o presidente Jair Bolsonaro para a frente em todas as regiões, exceto o Nordeste, animando a campanha bolsonarista e acendendo sinal amarelo na petista.
Sobram apenas 4% de brancos/nulos e 1% de indecisos, o menor índice já registrado nas eleições. Logo, a margem para Bolsonaro virar o jogo é muito reduzida, aritmeticamente insuficiente, e ele precisa tirar votos de Lula, quebrando a muralha dos 49%.
Após entrar no tudo ou nada ao usar o Congresso para implodir a lei eleitoral e a responsabilidade fiscal, impunemente, e despejar R$ 41 bilhões do dinheiro público para comprar votos, ele não parou mais. No dia seguinte ao 1.º turno, anunciava o 13.º do Auxílio Brasil para mulheres e a antecipação geral do benefício para dias antes da eleição. Depois, o empréstimo consignado para famintos e, agora, a antecipação também do auxílio para caminhoneiros e taxistas.
Não é mais só o Planalto, mas o Estado brasileiro a serviço de um candidato, desvirtuando a igualdade de condições e a compostura republicana. Governo e bancos públicos servem como comitês de campanha e instrumentos de coação, deixando uma bomba fiscal para 2023. Algo nunca visto.
Há também o reforço dos pastores Brasil afora e a rede de patrões adaptando currais eleitorais à era digital: “ou vota no meu candidato ou rua!”, gravou um produtor rural bolsonarista na Bahia. Flagrado, disse que era só brincadeirinha. São mais de 720 denúncias, em todas as regiões, de ameaças que humilham, tiram a cidadania, desvirtuam a eleição e a democracia. São isoladas? Individuais?
Com tudo isso, Bolsonaro só oscilou um ponto para cima nos votos válidos e os ventos favoráveis vêm dos segmentos: tem 40% entre quem recebe Auxílio Brasil e uns pontinhos a mais na espontânea, entre homens e os que ganham mais. Não afeta o favoritismo de Lula, mas produz medo, que se propaga rápido e inverte a percepção de quem é, de fato, mais forte. Muitos eleitores votam no “mais forte”.
Assim como não deslancha com a máquina e as ameaças, Bolsonaro tem incrível resiliência depois de Círio de Nazaré, Aparecida, “nordestinos analfabetos”, “pintou um clima”. Lula estacionou em possantes 49% e tempestades perfeitas acontecem, mas não estão no horizonte. Tudo depende do Sudeste (particularmente de Minas), do debate da TV Globo dois dias antes da eleição e… de bombas armadas na surdina.