Sem avançar no Datafolha, Bolsonaro usa governo para tumulto com denúncia vazia
No estilo nada sofisticado que caracteriza a comunicação bolsonarista, Faria afirmou que emissoras de rádio, principalmente no Nordeste, teriam deixado de veicular inserções publicitárias da campanha de Jair Bolsonaro (PL).
A supressão estaria conectada à larga vantagem obtida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre os nordestinos.
Coincidência ou não, a pantomima veio na sequência do desgaste provocado na campanha pelo desvario do ex-deputado Roberto Jefferson, com seus tiros contra policiais federais, enquanto Bolsonaro não dá sinal de avanço nas pesquisas. Nesta quinta (27), marcou 44% das intenções de voto totais no Datafolha, ante 49% de Lula.
É plausível que rádios possam falhar ou descumprir a programação obrigatória, mas está claro que o ministro promoveu a divulgação de um factoide costurado às pressas com o intuito de mudar a pauta, insuflar apoiadores e lançar, mais uma vez, suspeitas sobre o processo eleitoral.
A acusação prestou-se a alimentar o discurso de uma candidatura que se diz vítima do establishment, da Justiça Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal, acusados de favorecer o adversário. Ressalte-se que cabe a partidos e campanhas o monitoramento das veiculações e não é tarefa do TSE distribuí-las.
É incerto se a alegação servirá de pretexto para reações contundentes, em especial na hipótese de uma derrota do presidente.
Bolsonaro, diga-se, evitou assumir um tom de incentivo aberto ao tumulto em seu pronunciamento sobre o tema, na quarta (26). Manteve o controle ao reiterar as acusações infundadas e disse que respeitará o resultado das urnas.
Numa disputa marcada por discussões as mais extravagantes e inúteis para esclarecer o eleitor sobre os reais planos dos candidatos, o episódio não chega a surpreender. É de esperar que um mínimo de troca de ideias e apresentação de propostas venha a ocorrer no debate organizado pela Rede Globo na noite desta sexta-feira (28).
Comentário nosso
Bolsonaro tentando inventar uma desculpa para a derrota iminente. (LGLM)