Antes, porém, nesse país imaginário, esse político preso, armado e amalucado recebe agentes da Polícia Federal com 50 tiros e três granadas. E o que faz o presidente da República? Destaca o ministro da Justiça para negociar, a favor do aliado criminoso, com quem ele disse que nunca tirara uma foto. A internet foi inundada de fotos dos dois.
Ato contínuo, um ministro desse país imaginário, que não deveria ter nada com a campanha de reeleição, convoca uma entrevista, à porta do palácio presidencial, e denuncia fraude na divulgação das peças eleitorais nos rádios. Suspense! Tensão! Mas não era nada. Muitos consideraram uma farsa e o presidente da Corte Eleitoral tachou de “tentativa de tumultuar” as eleições, dias depois.
Como “prova”, o presidente não apresentou nenhuma “auditoria” real, só uma lista de oito rádios, num universo de 6 mil, nas quais teria havido problema. Todas, porém, comprovam que as inserções foram transmitidas, sim, a não ser quando… o partido do presidente entregou o material atrasado.
O feitiço virou contra o feiticeiro, que ficou muito bravo com a decisão da Corte Eleitoral de mandar investigar sua campanha por má-fé, e convocou reunião com ministros, generais e comandantes militares. O que aconteceu? Novamente nada.
No meio disso, um sujeito esquisitão apresenta denúncia na mesma linha, de “fraude” nas rádios”, é demitido do tribunal eleitoral e abre uma crise dentro da crise. Mas dura pouco. O tempo para se saber de posts dele contra o candidato da oposição e dos posts da rádio citada a favor do presidente.
Apesar de tudo, a eleição corre em impressionante estabilidade, com o candidato da oposição na frente, o da reeleição produzindo factoides, batendo cabeça com sua assessoria e… alimentando o pavor geral de um golpe nesse país imaginário. Como se fosse fácil dar golpes nesse país com economia forte, sociedade atenta, instituições sólidas e uma Corte Suprema e uma Corte Eleitoral capazes de responder a todas as ameaças.
Golpe não haverá, mas a guerra continua, com milhares de eleitores com revólveres, fuzis, talvez até granadas. Se o candidato à reeleição perder, como preveem pesquisas e o comportamento dele próprio indica, tudo é possível. Inclusive nada. Porque, como dizem Constituição e Forças Armadas, é simples: quem ganhar leva. Até mesmo em países onde a realidade supera a ficção.