O discurso foi lido de duas formas. Para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro entendeu o recado de que, ao não se manifestar sobre os bloqueios nas estradas e deixar a confusão correr solta, estava cometendo crime de responsabilidade. No diagnóstico de seus apoiadores, porém, o chefe do Executivo apenas “despistou” os críticos quando conjugou, com todas as letras, o verbo da rendição: “Acabou”.
Eles podem ter razão. Com um aviso prévio em mãos, o presidente que se despede do Palácio do Planalto quer montar uma espécie de “gabinete paralelo” da direita contra Lula, após a virada do ano. A portas fechadas, Bolsonaro confidenciou que não pretende passar a faixa presidencial, deixando a tarefa para o vice, Hamilton Mourão. A ideia é seguir o mesmo roteiro de Donald Trump nos Estados Unidos.
Filiado ao PL de Valdemar Costa Neto, o atual ocupante do Planalto almeja ser o principal antagonista de Lula e pavimentar o caminho para 2026, se a Justiça deixar. O Centrão, porém, já começou a desembarcar do governo.
“Lula precisará ter muita habilidade para pacificar, senão o Brasil vai pegar fogo”, afirmou o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA). “Bolsonaro é homem de confronto, mas nós não vamos apoiar uma guerra.”
Às vésperas do segundo turno, Elmar disse ao Estadão que, se o STF considerar inconstitucional o orçamento secreto distribuído pelo Congresso, sofrerá retaliações. “Se tirar o nosso, a gente tira o deles”, avisou. Questionado na tarde desta terça-feira, 1º, o deputado – que é aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) –, adotou outro tom. “A hora é de unir o Brasil e as instituições precisam ser respeitadas”, insistiu ele. Tradução: com o café frio no Planalto, o Centrão já pisca para Lula.
Bolsonaro quase conseguiu isso nas eleições, mas, ao não sair de sua bolha, perdeu para ele mesmo. Agora, parece querer revanche. Pobre Brasil.
Comentário nosso
Será que ele vai passar o Reveilon no Brasil ou vai passar no exterior com medo de ser preso? (LGLM)