Um general confuso no seu labirinto e um Bolsonaro à moda Zelensky

By | 03/11/2022 8:03 am

Jogaram, perderam e agora terão que engolir Lula

 

(Ricardo Noblat, no Metrópoles, em
 

Esperto, o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República em final de carreira. Maltratado por Bolsonaro, afastou-se dele e foi para o Rio Grande do Sul, seu estado, elegendo-se senador.

Tosco, o general Mourão. Passou a falar que a imprensa tem que “acordar para o fato de que” dos 156 milhões de brasileiros aptos a votar este ano, 96 milhões não votaram em Lula.

O que quer dizer com isso? Que o mandato de Lula é menos legítimo? Ora, dos 147,3 milhões de eleitores aptos a votar em 2018, 89 milhões (ou seja: 61,8%) não votaram em Bolsonaro.

Há quatro anos, pois, Bolsonaro elegeu-se com 39,2% do total de votos. Mourão não deve ter feito essa conta. E se fez, escondeu-a. Vence quem alcançar 50% mais um dos votos válidos, diz a lei.

Em 1955, Juscelino Kubitschek (PSD) foi eleito presidente, juntamente com o vice João Goulart. As eleições para presidente e vice eram separadas. Goulart recebeu mais votos que Juscelino.

Carlos Lacerda (UDN), líder da oposição, tentou impedir a posse de Juscelino alegando que ele só obteve 36% do total de votos. Parte dos militares ficou ao lado de Lacerda. Não houve golpe.

Lula é o próximo presidente do Brasil simplesmente por ter tido mais votos que Bolsonaro. Para ser exato: 2.139.645 votos a mais, quase o equivalente à população de Manaus.

Se os dois tivessem empatado, Lula estaria eleito. Em caso de empate, segundo a lei, a vitória é do mais velho. Você acha isso um absurdo? Pressione o Congresso a mudar a lei.

Se você acha que quem teve mais votos não necessariamente deve se eleger, pressione o Congresso a mudar a Constituição. Se você acha que a Constituição pode ser ignorada… Bem, aí complica.

De volta a Mourão:

“Nós concordamos em participar de um jogo que o outro jogador não deveria jogar. Se concordamos, não há mais o que reclamar. Não adianta chorar. Perdemos o jogo”.

Por que Lula não poderia participar do jogo se o Supremo Tribunal Federal decidiu que podia? E o que Bolsonaro deveria ter feito? Recusar-se a jogar? Foi uma boa ideia que ele não teve.

Ou Bolsonaro não deveria ter aceitado a decisão do Supremo? O que ele faria então? Fecharia o Supremo? Seu filho, Eduardo, sempre defendeu que seria muito fácil fechar o Supremo.

Mourão acha que os protestos de agora deveriam ter sido realizados “quando o jogador [Lula] foi autorizado a jogar; ali, deveriam ter ido para a rua, buzinar, mas não fizeram”.

É uma crítica a Bolsonaro que, à época, não mandou seus devotos protestar nas ruas? Ou é uma crítica aos bolsonaristas que aceitaram a ideia de jogar o jogo por que acreditaram na vitória?

“Não considero que houve fraude”, confessa Mourão, “mas um jogador não deveria ter jogado”. General: vá se queixar com os ministros do Supremo ou com o jogador que insistiu em jogar.

Perguntado se dialogará com Lula se for convidado, Mourão responde sem hesitar: “Lógico”. A essa altura, qual político não quer dialogar com Lula? Talvez Zambelli, a pistoleira dos Jardins.

Bolsonaro, que apareceu, ontem, vestido à moda Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia (camiseta azul escuro, cabelinho cortado), já perdeu todos os aliados políticos que tinha.

Restam-lhe parte dos caminhoneiros financiados pela ala menos pop do agro, a nova geração das viúvas de Lacerda, os siderados que marcham diante de quartéis e os admiradores de Hitler.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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