Igrejas que apostaram em vitória de Bolsonaro enfrentam ‘fraturas’

By | 08/11/2022 4:42 pm

Denominações evangélicas apostaram alto na reeleição de Bolsonaro, com uso da narrativa de que o atual presidente seria enviado por Deus. Agora, lideranças sinalizam aproximação a Lula, o presidente eleito, enquanto outras permanecem em silêncio

(Henrique Lessa, no Correio Braziliense, em 07/11/2022) 06:00

 

 (crédito: Reprodução/ Facebook)
(crédito: Reprodução/ Facebook)

No último dia 30, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, orou pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e proprietário da TV Record, usou as redes sociais na última quinta-feira para pedir que a população perdoasse Lula. Ambos são grandes líderes de denominações evangélicas que, ao longo da campanha, estiveram na linha de ataque contra a candidatura do petista.

Outros líderes, como o pastor Apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, optaram, até o momento, pelo silêncio. Não patrocinaram os movimentos golpistas de alguns apoiadores inconformados com a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas também não saudaram a vitória do presidente eleito.

É esse silêncio, ao menos nos assuntos mundanos da política, que se observa em templos evangélicos de todo o país. Com estratégia baseada em uma teologia de guerra santa, na qual Bolsonaro seria o ungido por Deus, e Lula a representação do mal, gerou-se a satanização, tanto do adversário, como até mesmo do ‘irmão’ que discordava da orientação política do pastor. Agora, com a ‘vontade de Deus’ pela eleição do petista, há um dilema teológico entre os fiéis.

É o que observa o antropólogo e pesquisador da temática, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ronaldo de Almeida. “Você vai nas igrejas, e eles não sabem como explicar para o fiel como o Deus que está no comando escolheu Lula e não Bolsonaro. É uma igreja que sai fraturada, que já saiu fraturada em 2018, e agora mais ainda, pois jogaram todas as fichas na eleição do Bolsonaro”, aponta o professor.

Apesar de afirmar que irá orar pelo presidente e que respeita o resultado das urnas, Malafaia chegou a dizer que deseja distância de Lula e seu governo. Já o bispo Edir Macedo foi mais cauteloso, escolheu o genro, pastor Renato Cardoso, para falar mal do presidente eleito. Sua única declaração a respeito do resultado após o segundo turno eleitoral foi sobre o perdão ao presidente eleito, aceitar o resultado e “bola para frente”. “É um movimento esperado das grandes denominações evangélicas que sempre “são governo””, avalia Almeida.

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que dispensa o perdão de Edir Macedo. “Ele é quem precisa pedir perdão a Deus pelas mentiras que propagou”, retrucou a parlamentar. O bispo, em réplica, afirmou “não dever nada nem a Lula nem a Bolsonaro”. Mas Almeida lembra que a IURD e a Record foram privilegiadas, tanto nos governos de Lula, quanto de Bolsonaro. Ainda no governo Lula a diplomacia brasileira foi atuante para atender os interesses da IURD em Angola, país onde hoje a igreja enfrenta problemas com o governo. Já no governo Bolsonaro a verba publicitária, antes concentrada na TV Globo, migrou em grande parte para o SBT e para a TV Record do bispo.

Almeida aposta que tanto Macedo quanto Malafaia devem voltar a se aproximar do governo petista. “Essa característica governista das corporações da fé está ligada aos interesses particulares de cada igreja”, completa o antropólogo.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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