Mais armas, menos razão

By | 17/02/2023 8:05 am

Bolsonarismo gerou aumento do número de armas, mas novo governo retoma sensatez

 

(O que a Folha pensa, Editorial, em 16/02/2023)

 

Homem dispara arma em clube de tiro em São Paulo
Praticante dispara arma em clube de tiro, em São Paulo (SP) – Carla Carniel/Reuters

Entre os piores legados da passagem de Jair Bolsonaro (PL) pelo poder está a escalada do número de armas de fogo em poder da população. O ex-presidente facilitou, de modo irresponsável, o acesso a esses artefatos —desvirtuando o Estatuto do Desarmamento, que desde 2003 restringe fortemente a posse e o porte no país.

Como resultado, o número de armas nas mãos de civis mais que dobrou nos últimos cinco anos. Segundo levantamento do Instituto Sou da Paz, em 2022 haviam 2.965.439 artefatos registrados; em 2018, eram 1.320.582.

O perfil do proprietário também mudou. Um ano antes da posse de Bolsonaro, 47% das armas estavam com membros de instituições militares, enquanto CACs (caçadores, atiradores desportivos e colecionadores) detinham 27%.

Dada a ausência de serviços de segurança pública em áreas remotas e atividades como garimpo e extração de madeira, a Amazônia é, historicamente, uma zona conturbada. Em 2021, a taxa de mortes violentas chegou a 30,9 por 100 mil habitantes —38,6% superior à média nacional (22,3 por 100 mil).

Facilitar e estimular a posse de armas, inclusive de grosso calibre, nesse contexto, é como acender um rastilho de pólvora.

O argumento bolsonarista é o da dissuasão, conhecido como “mais armas, menos crimes”: potenciais agressores inibiriam suas ações ao considerar que as vítimas poderiam estar armadas.

Contudo, levantamento feito pelo economista Thomas Conti, professor do Insper, mostra que 90% da revisão de literatura (análises das pesquisas já realizadas sobre o tema) publicada entre 2013 e 2017 não comprova essa hipótese.

Assim, fez bem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao revogar normas que, por exemplo, permitiam a compra de até 60 armas, 30 de uso restrito e 30 de uso permitido, por parte de CACs. Agora, o limite é de 3 artefatos apenas de uso permitido. A emissão de novos certificados para CACs foi interrompida e todas as armas no país devem ser registradas na Polícia Federal.

Segurança pública é área complexa na qual populismo e imediatismo podem produzir efeitos contrários ao esperado. Ao lidar com vidas humanas, medidas baseadas em racionalidade e perseverança ainda são as mais indicadas.

editoriais@grupofolha.com

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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