Promessas do ministro como reduzir o rombo das contas do governo e zerar o déficit em meados de 2024 estão por trás de ataques do partido à equipe econômica
Desde o anúncio do pacote fiscal pela equipe econômica, quando Haddad acenou com a reversão do déficit de R$ 231,5 bilhões para um superávit de R$ 11,1 bilhões, as críticas só vêm aumentando. Para a cúpula do PT e economistas ligados ao partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o risco de retração da atividade econômica, com a taxa Selic em 13,75% e uma crise de crédito à espreita, não há que se falar em reversão do déficit. Um compromisso assumido pelo ministro da Fazenda considerado equivocado pela ala política.
Com o pacote de ajuste, Haddad fez uma guinada de 180º nessa tendência, o que acabou melhorando a confiança do mercado na capacidade de o governo apresentar um novo arcabouço fiscal, mas desagregou o PT e ministros mais ideológicos do núcleo político. O ministro, na visão dos petistas, estaria se alinhado equivocadamente ao mercado e colocando a popularidade do presidente em risco, o que pode abrir espaço para a oposição da extrema direita.
Na esteira dessa pressão pública, que teve foco inicial no presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e se estendeu a Haddad, o governo anunciou o aumento do salário mínimo, a correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física, o novo Minha Casa, Minha Vida e anuncia em breve o programa de negociação de dívidas, o Desenrola. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, deixou claro a sua contrariedade ao se posicionar contra a reoneração dos combustíveis.
Guru
Os defensores do ajuste gradual têm agora como “guru” econômico André Lara Resende, um dos idealizadores do plano real e crítico feroz dos juros altos e da alegação de risco fiscal para manter a taxa Selic em 13,75% no Brasil. Para Lara Resende, o Brasil tem endividamento muito inferior a todos os países desenvolvidos, em linha com os países em desenvolvimento.
Inspiração para uma ala do PT que fustiga o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o economista André Lara Resende criticou, em artigo recente no jornal Valor Econômico, colegas e a imprensa por, segundo ele, “martelarem” o problema do déficit público e da insustentabilidade da dívida.
“Pasmem: houve um superávit de R$ 126 bilhões (em 2022), equivalente a 1,3% do PIB. A dívida pública bruta, aquela que os analistas insistem estar numa trajetória explosiva, caiu 1,1% em proporção do PIB, para 73,5%. Seria de se esperar que os arautos do abismo fiscal reconhecessem que, no mínimo, tinham exagerado o problema fiscal. Mas não, pelo contrário, voltaram com ênfase reforçada, impassíveis diante dos fatos e dos dados”, escreveu Lara Resende, que tem sido citado no mercado como candidato à vaga de diretor de Política Monetária do Banco Central no lugar de Bruno Serra, cujo mandato vence hoje.
Esse ponto, porém, tem sido usado pelos aliados de Jair Bolsonaro como evidência de melhora das contas públicas e de que não há como o governo Lula falar em “herança maldita”.
Não vou entrar no mérito das medidas econômicas defendidas por Haddad, pois não é “minha praia”. Mas desconfio deste fogo amigo disparado por petistas. Há, a nosso ver, uma ciumada interna entre os petistas com relação a Haddad, que se tiver sucesso como Ministro da Fazenda, é candidato imbatível dentro do partido a sucessor de Lula em 2026. Com relação a reoneração dos combustíveis pelos impostos, acho que Haddad tem razão. A medida de Bolsonaro reduzindo os impostos sobre combustíveis foi politiqueira visando a reeleição, mas governo nenhum pode abrir mão de impostos, sob pena de o país ficar ingovernável. Governo não fabrica dinheiro. Todo o dinheiro que o Governo utiliza é oriundo dos impostos. Se tira o imposto de um lado, tem que criar em outro. Não há como governar sem cobrar imposto. O máximo que o Governo pode fazer é manter a redução do imposto sobre o diesel, que influi decisivamente na inflação, através dos fretes dos produtos, e reonerar os outros combustíveis, queimados pelos ricos de verdade ou que se fazem. Sem esquecer que tem muito rico queimando óleo diesel em carrões 4×4 e assemelhados. (LGLM)