Teleprompter já (seguido de comentário nosso)

By | 19/03/2023 10:10 am

Fala do presidente tem grande peso na sociedade e deve ser tratada com cuidado

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa durante cerimônia no Palácio do Planalto – Adriano Machado/Reuters

No Império brasileiro, os trabalhos legislativos anuais abriam-se e encerravam-se com a “fala do trono”. Não obstante a alusão à oralidade, as peças eram na verdade escritas com denodo, e seus termos, detidamente sopesados, antes da apresentação aos parlamentares.

A República livrou-se do vezo absolutista da velha tradição, mas não da centralidade do discurso para o exercício do poder pelo chefe de Estado. A palavra do presidente tem grande peso na sociedade e deveria receber melhor atenção do círculo governamental.

O improviso, decantado por seguidores seja do atual mandatário, seja do seu antecessor, costuma ser traiçoeiro e custoso. Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embananou-se com frases um tanto desconexas tratando de preguiça dos indígenas, da miscigenação como um lado bom da escravidão e dos malefícios da obesidade.

A miscigenação pode conotar um alto grau de liberdade para os indivíduos se relacionarem numa dada sociedade desde que não haja violência nem submissão, como houve durante a escravidão no Brasil. A obesidade é uma doença grave e crescente no país, embora devamos combater os preconceitos contra pessoas obesas.

Numa dessas falações sem bússola, que bajuladores aplaudem como geniais, Lula tachou de golpista o governo de Michel Temer (MDB). Dois minutos de reflexão e um texto escrito à sua frente o teriam poupado do ataque gratuito a aliados e potenciais aliados de seu terceiro mandato.

Nos juros, a oratória destampada do presidente resultou no oposto do que almejava. Queria, como aliás é o desejo geral no país, que as taxas caíssem, mas as suas ameaças à autonomia do Banco Central encareceram o crédito e postergaram a redução esperada da Selic.

A imagem do encantador de serpentes ou a do pícaro que, com a sua prosódia melíflua, convence a plateia das teses mais indigestas não combinam com o exercício da Presidência nas democracias modernas —nem com Lula, haja vista seu desempenho errático nos debates eleitorais recentes.

As responsabilidades políticas, econômicas e sociais implicadas na mensagem do governante exigem que se dê a ela tratamento profissional, protocolar e mediato. O uso mais frequente do teleprompter, o dispositivo eletrônico que mostra ao presidente o que ele de antemão se propôs a falar, faria um grande bem à República.

editoriais@grupofolha.com

 

Comentário nosso

Tem toda razão o editorialista, um discurso preparado previamente e lido algumas vezes antes de proferi-lo evitaria algumas besteiras que são ditas de público, por mais preparado que seja o político. Se usassem discursos previamente preparados, Bolsonaro e Lula diriam muito menos besteiras do que têm dito. Claro que é mais fácil perdoar Lula que não passou de um simples mecânico, de que Bolsonaro que chegou a capitão, no Exército. O improviso sempre é perigoso. Com meus quase sessenta anos como locutor de rádio e mais de quarenta como jornalista, sempre preparo e escrevo meus programas, que redijo e reviso várias vezes para evitar dizer besteiras e me contradizer. E a maioria dos profissionais de respeito fazem isso na imprensa. Erros de redação, com problemas de concordância são comuns mas não prejudicam o contexto, mas erros de lógica ou informações erradas podem prejudicar qualquer discurso ou pronunciamento.  Erros de concordância apenas dão a impressão de pouco conhecimento da língua portuguesa, assim como erros de pronúncia, como dizer gratuíto ao invés de gratuito. (LGLM)

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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