(José Romildo Sousa, Escritor, poeta, historiador e consultor cultural, no Facebook, em 23/03/2023)
O ser humano tem a possibilidade de se reinventar, diante das dificuldades que a vida lhes impõe, com determinação é capaz de superar e conviver de maneira satisfatória com determinadas limitações, a exemplo daquelas que se apresentam com comprometimento da capacidade funcional.
No caso da Rainha do Sertão, no que se refere ao setor futebolístico, dois fatos tornaram-se relevantes, para a população. Quem não lembra de “Pistola” do Nacional? Mesmo apresentando uma deficiência física em um membro superior, tornou-se um dos grandes jogadores de futebol na década de 70. Infelizmente, Pistola faleceu nesta semana na capital do Estado. E o “Gago” Edileuson?, reconhecido como um dos maiores locutores esportivo de toda a Paraíba. Um distúrbio da fala, denominado Gagueira, não o impediu de desenvolver o seu trabalho com muita competência, tornando-se muito respeitado pela sociedade paraibana.
Sobre este inolvidável locutor, pretendemos nesta resenha cultivar a sua vida e a sua obra, como reconhecimento pela sua força de vontade e dedicação para superar a deficiência com a qual conviveu desde o nascimento.
Edileuson Franco de Medeiros, natural de Patos, Estado da Paraíba, nasceu no dia 19 de junho de 1946. Filho de seu Euclides Franco de Medeiros e de Dona Maria Joana de Medeiros, era casado com Maria da Conceição Fernandes de Araújo Franco e com ela teve três filhos: Izabella, Pedro Euclides e Camila Maria.
Em depoimento Luiz Gonzaga Lima de Morais contou como foram os primeiros tempos com o colega Edileuson: “O nosso conhecimento vinha do tempo em que fomos juntos para o seminário de Cajazeiras, no remoto ano de 1955. Ele passou menos de um ano no seminário, eu passei quase seis. Na pequena Patos de então, continuamos a manter contato, eu como seminarista até 1960, ele frequentando a catedral onde foi coroinha. Adolescente ele passou algum tempo na Espinharas, onde foi contínuo, operador e redator de notícias, no início dos anos 60. Neste período saiu da emissora e trabalhou na IPALMA.
Cabe ressaltar que quando era estudante do Ginásio do Padre Vieira, Edileuson brincava de treinar as transmissões dos jogos, no Campo do Diocesano, utilizando um pedaço de tijolo, como se fosse um microfone. E essa prática o influenciou para que ele se tornasse um dos mais respeitados narradores de futebol de sua época.
No ano de 1965 retornou à Rádio Espinharas na gestão do professor Durval Fernandes. Sua trajetória na emissora foi uma das mais frutíferas desenvolvendo diferentes atividades, com ênfase para os cargos de operador, redator, locutor, narrador, motorista, diretor comercial e jornalista profissional, com registro de Redator na DRT/PB, foi membro efetivo da Associação de Cronistas Esportivos da Paraíba.
Edileuson Franco era formado em Medicina Veterinária pela Fundação Francisco Mascarenhas, funcionário da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado da Paraíba, além de chefe do Serviço de Saúde Animal e de inspeção de produtos de origem animal, da Prefeitura Municipal de Patos.
Merece destaque a sua grande paixão pelo Esporte Clube de Patos a qual não escondia de ninguém a sua preferência por este time. Dizem até que, às vezes levava esta paixão até aos microfones. Conta-se que em um jogo envolvendo o Nacional e o Esporte, valendo pela “Taça Cidade de Patos”, um lance curioso aconteceu. O Nacional jogava pelo empate para conquistar o certame e o Esporte vencia o jogo – até aquele momento por 2xl. Faltando um minuto para o encerramento do jogo, surgiu um escanteio para o Nacional. E Edileuson animando a torcida do Esporte narrava: “Pode vibrar, torcida do Esporte… não há mais nada a fazer…a taça já é nossa…. é a última volta do ponteiro do relógio… E continuou: -“Atenção, correu Chacon… (pausa) …cobrou o escanteio, subiu Ribamar de cabeça…. Puta que pariu!!! Isto é que é azar!… Gooooooooooooooooool!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Do Nacional!…. O time alviverde empatou o jogo levou a Taça Cidade de Patos, para desespero do grande radialista e de toda a torcida.
Segundo o colega Luiz Gonzaga Lima de Morais: “O Gago sabia tudo de rádio. Um dos seus grandes feitos pessoais foi vencer a gagueira. Venceu com treinamento, com esforço, com dedicação e, principalmente, com humildade. Ainda hoje, por onde passo, quando falo na Rádio Espinharas, ele é sempre a grande referência. É respeitado como um dos maiores narradores esportivos do Nordeste. Virgílio Trindade, outro grande amigo meu e dele, e que conviveu com grandes profissionais de rádio, diz que Edileuson foi um dos mais completos profissionais que conheceu”.
O falecimento de Edileuson Franco de Medeiros, ocorreu no dia 13 de dezembro de 1999, em Patos, no Hospital Regional Janduhy Carneiro, causando uma grande perda à radiofonia paraibana e uma saudade incontida aos seus familiares, colegas e amigos espalhados por todo a Paraíba, onde seu nome sempre foi lembrado e respeitado.
Após a sua morte, o radialista Edileuson Franco de Medeiros foi homenageado através da Lei Municipal nº 3.977 de 2000, onde seu nome foi usado para denominar a Tribuna de Honra do Estádio Municipal José Cavalcanti.