Cauteloso, até por temperamento, mas não só por isso, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, elogiou o esforço da equipe de Haddad e disse que gostou do que viu, mas espera um plano pronto e acabado antes de dar uma posição final. Foi no limite, mas acolhedor. Dali não se espere uma oposição irascível.
Uma curiosidade no lançamento foi que o petista Haddad falou de economia, a liberal Simone Tebet prestigiou o social. Ele fez uma exposição sobre o espírito do pacote e as metas econômicas, ela defendeu a flexibilização que garante o discurso social de Lula e as políticas públicas deixadas de lado “nos últimos seis anos” (ou seja, a emedebista incluiu o governo Temer).
A grande mudança do pacote é que o teto de gastos deixa de ser vinculado à inflação e passa a ser à arrecadação, com destaque para investimentos, exceção para educação e piso de enfermeiros e flexibilidade, com travas e bandas, para excepcionalidades que surjam.
Como Haddad já me havia dito, e agora recheou com números, o plano inverte a lógica, com uma regra anticíclica: com arrecadação acima das previsões, o aumento do gasto será, no máximo, de 2,6% da inflação; com arrecadação abaixo, o gasto não poderá crescer menos do que 0,6%. Sem gastança nas vacas gordas e pindaíba nas magras. As sobras irão para investimentos.
Haddad é o grande vencedor, como na PEC da transição e na reoneração dos combustíveis, mas a guerra continua. O pacote precisa passar pelo Congresso sem ser desfigurado e depois vem a reforma tributária, contra o “patrimonialismo” e os “jabutis” do sistema tributário, camarada com os muitíssimo ricos e cruel com os mais pobres. Como diz o ministro, a regra é só um começo e tudo isso é um processo, um longo processo.