Câmara rejeita articulação política para salvar Dallagnol; Lira vai dar trâmite burocrático à decisão da Justiça
Ex-procurador da Lava Jato teve mandato cassado pelo TSE. Aliados contavam com uma salvação na Câmara – mas presidente da Casa indicou que isso não deve acontecer.
Ex-procurador Deltan Dallagnol em foto de 2019 — Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e líderes dos principais partidos da Casa rejeitam articular ou patrocinar uma operação para salvar o mandato de Deltan Dallagnol (Podemos-PR), que teve o registro cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A cassação foi decidida na terça-feira (16). De forma unânime, os ministros da Corte entenderam Deltan deixou o Ministério Público Federal para evitar punição em investigações preliminares das quais era alvo. A Lei da Ficha Limpa impede candidaturas de pessoas que utilizem esse expediente.
Após a decisão, aliados de Dallagnol contavam com uma reversão na Câmara, mas Arthur Lira (PP-AL) indicou que isso não vai acontecer.
Tanto que, na quarta-feira (17), ao responder a uma questão de ordem do deputado Maurício Marcon (Podemos-RS), disse que a mesa diretora da Câmara iria seguir o que determinam as normas da Casa em situações como essa.
“A Mesa seguirá o que determina o ato [Nº 37, DE 2009, que trata dos procedimentos a serem observados nas hipóteses de perda de mandato]: a Câmara tem que ser citada, a Mesa informará ao corregedor, o corregedor vai dar um prazo ao deputado, o deputado faz sua defesa e sucessivamente”, disse durante a sessão do Plenário.
A corregedoria encaminhou a notificação a Dallagnol nesta quinta (18). O deputado tem cinco dias para apresentar sua defesa.
O despacho de perda do mandato cabe à mesa diretora, composta Marcos Pereira (Republicanos-SP), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Luciano Bivar (UNIÃO-PE), Maria do Rosário (PT-RS), Júlio Cesar (PSD-PI) e Lucio Mosquini (MDB-RO), além de Lira.
Não há disposição da Câmara de encarar um embate ou enfrentamento com Judiciário por conta de Deltan.
Comentário nosso
Alguns setores aplaudiram o anúncio de que a Câmara não acataria a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de cassar o mandato do deputado federal paranaense, Deltan Dallagnol. E deve ter ficado decepcionados com esta notícia. Só que eles não atentaram para um detalhe. A Justiça Eleitoral não cassou o mandato do deputado por manifestação dele enquanto deputado federal em pleno exercício da função, como aconteceu em outros casos em que a Câmara contrariou decisões da Justiça. O TSE simplesmente entendeu que Dallagnol era inelegível e, por isso, não devia nem ter assumido o mandato de deputado. Por outro lado, ele não teve o mandato cassado por um pretenso crime cometido durante o processo eleitoral. Ele, simplesmente, não deveria nem ter disputado as eleições, por ser inelegível. Legalmente ele não foi eleito. Por isso, dificilmente a Câmara afrontará o Superior Tribunal de Justiça. Ao mesmo tempo, embora tenha anunciado que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal, dificilmente Deltan terá sucesso em seu recurso. Três dos ministros do TSE são também ministros do STF, portanto um recurso seu já começará com três votos contrários e com mais três votos ele terá seu pretenso recurso indeferido. (LGLM)