Ex-presidente abandona pela segunda vez o tenente-coronel Mauro Cid
Igo Estrela/Metrópoles
Aconselhado por seus advogados, Mauro Cid, preso há 15 dias por ordem do ministro Alexandre de Moraes, escolheu outra saída: ficar calado. Não responder a nenhuma pergunta.
O silêncio de Mauro Cid deixou Bolsonaro apreensivo, tanto que logo sua assessoria passou a espalhar que não, que foi muito bom para ele. É sempre assim toda vez que Bolsonaro se enrasca.
O ex-presidente esperava que Mauro Cid o inocentasse, dizendo que ele nunca soube e nem encomendou a falsificação. Acontece que isso equivaleria a um suicídio para o tenente-coronel.
Ele estaria assumindo sozinho a culpa por um crime, porque é disso que se trata. Ou jogaria a culpa nas costas de terceiros. Está mais do que provado o envolvimento de Mauro Cid na falsificação.
Qualquer investigação de um crime começa com a pergunta: a quem interessava? A quem o crime beneficiaria? A Mauro Cid, certamente que não. Ele fez o que lhe mandaram. Quem mandou?
Faz sentido, à revelia de Bolsonaro, seu principal ajudante de ordem falsificar a carteira de vacinação para presentear quem jura que nunca se vacinou? Não era hora de brincar de amigo oculto.
Só Bolsonaro teria algo a ganhar com a fraude do seu cartão. Não precisou dele para entrar nos Estados Unidos simplesmente porque fugiu daqui ainda na condição de presidente.
Mas quando deixou de ser 24 horas depois, e para circular com liberdade em outro país, talvez fosse obrigado a provar que havia se vacinado. Michelle Bolsonaro, por exemplo, vacinou-se.
O silêncio de Mauro Cid pode ter sido bom para ele, que não se incriminou e ganhou mais tempo para pensar no que fará da vida. Mas para Bolsonaro, com toda certeza, não foi.
Continuará pesando sobre sua cabeça uma dúvida mortal: para atenuar sua pena, será que Mauro Cid, mais adiante ou desde já, terá a coragem de colaborar com a Justiça, traindo-o?
Bolsonaro abandonou Mauro Cid ao depor à Polícia Federal na semana passada, e novamente ontem ao afirmar:
“Peço a Deus que [ele, Mauro Cid], não tenha errado. E cada um siga sua vida”.
Só faltou dizer: cada um siga sua vida, mas separados.
A propósito: a Polícia Federal está levantando os lugares por onde Bolsonaro passou nos Estados Unidos para ver se em algum lhe pediram o cartão de vacinação.
Comentário nosso
Mauro Cid vai continuar sendo “o calo” de Bolsonaro. Já pensou se ele, para salvar a própria pele, resolver, mais adiante, fazer uma delação premiada? Certamente terá muito a revelar à Justiça. Enquanto isso, será que Bolsonaro vai dormir sossegado? (LGLM)