Medicina negacionista
O texto começa dizendo que a planta “causa dependência gravíssima”. Mas inúmeras pesquisas mostram que a cannabis é uma das drogas que menos predispõem ao vício.
Artigo da própria ABP, de 2002, reproduz dados dessas pesquisas e aponta que o risco de usuários de maconha desenvolverem dependência é de 10%, enquanto o álcool tem índice de 15%, opioides, 23%, e tabaco, 32%. Se, para o CFM, a dependência em maconha é “gravíssima”, não sei qual adjetivo a entidade usaria para a descrever heroína ou nicotina —essa última, como se sabe, é legalizada e vendida na padaria da esquina, assim como álcool.
A nota afirma ainda que a descriminalização “amplia o poder do tráfico, contribuindo para maiores índices de violência”. Contudo, em “Análise econômica da proibição das drogas”, Mark Thornton revela, a partir de revisão de pesquisas, que a legalização mina o tráfico, já que baixa preços, abre concorrência com produtos de melhor qualidade e retira as armas das negociações.
Segundo o CFM e a ABP, só países que agiram com maior rigor contra as drogas conseguiram diminuir consumo, dependência e violência. Pasmem: o combate ao tabagismo é citado como exemplo.
Ora, mas o tabaco nunca foi proibido. A comparação não faz sentido; ou melhor, até faz: mostra que a legalização é a melhor política pública para lidar com a maconha, ao regulamentar produção e consumo e retirar o tráfico da equação.
Comentário nosso
Existe muita má-fé nesta nota do Conselho Federal de Medicina e da Associação Brasileira de Psiquiatria. O álcool vicia mais do que a maconha e o cigarro três vezes mais e você compra o9 dois em toda esquina. O STF apenas está definindo qual a quantidade que pode ser conduzida pelo simples usuário, para evitar que as cadeias continuem cheios de meros usuários da maconha. Talvez o uisque que muitos médicos tomam lhes faça mais mal do que um simples cigarrinho de maconha. E hoje só pobre é que usa maconha. Rico usa cocaína e outras drogas mais pesadas. Graças a Deus não sou viciado em álcool nem em maconha. Raramente fumo, cachimbo ou charuto, e não trago, uma das razões para não apreciar a maconha. Não conheço nem o cheiro. Uma cachacinha de vez, em quando, mas nunca passo da segunda dose. Um cálice de um licorzinho digestivo. Ou aquela taça de vinho para o coração. (LGLM)