Bolsonaro: autenticidade fingida, fraudes reveladas (seguido de comentário nosso)

By | 23/08/2023 7:36 am

Melhor cortina de fumaça para ardis é elogiar a verdade enquanto se manipula a massa

 

(Wilson Gomes, Professor titular da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e autor de “Crônica de uma Tragédia Anunciada”, na Folha, em 22/08/2023)

 

Praticamente tudo relacionado a Bolsonaro pode, em grande medida, ser descrito pelo campo semântico da falsificação. De adulteração e armação a tramoia e trapaça, abundam ações ou falas de Bolsonaro e do seu círculo íntimo para ilustrar cada um dos vocábulos no caminho: ardil, contrafação, embuste, engano, farsa, fraude, golpe, impostura, logro, manipulação, tapeação. Procure uma palavra cujo significado seja “atitude que visa enganar” ou “situação armada para fazer de conta” e você encontrará um verbete da enciclopédia bolsonarista.

Tudo supostamente contra a hipocrisia, a polidez burguesa, o fingimento. Tudo forjado para agradar muitos públicos que se identificam com “homens do povo” e para corresponder à máxima de que quem fala a verdade não merece castigo e à crença de que a hipocrisia, não a brutalidade e a grosseria, é o pior traço de um caráter. Não é à toa que o jargão da autenticidade se fez acompanhar pelo louvor à verdade —assim, no singular, para dar ares messiânicos à chegada de Bolsonaro ao poder.

Não há, no entanto, melhor cortina de fumaça para ardis e maracutaias do que se elogiar a verdade e a autenticidade enquanto se investe, por meio de subterfúgios, na manipulação das massas. Tem até uma expressão latina para tanto: Ars est artem celare. O segredo da arte é esconder o artifício, parecer natural, espontâneo. Daí a espontaneidade planejada de um presidente “pão com margarina”, que toma café em copo americano, adora comer o dogão da esquina, com ketchup escorrendo pelos dedos e pingando na camisa, a fim de deliberadamente corresponder ao modelo do homem simples com quem tantos se identificam.

Na semana passada, Walter Delgatti acusou Bolsonaro e o seu entorno de encomendar-lhe: a simulação de um código fonte da urna eletrônica, inserindo nele linhas para fingir que era possível votar em um candidato e o voto ser computado para outro; que assumisse um grampo inverídico de uma conversa fake do ministro Alexandre de Moraes, com o intuito de engabelar os cidadãos; uma aparição do hacker na propaganda de Bolsonaro, mentindo ao público que era possível fraudar o processo eleitoral. Além de oferecer: a promessa de que, se fosse descoberto e acusado pelas adulterações cometidas, receberia indulto presidencial; garantia de carta branca para fazer o que fosse necessário para ludibriar o público.

Em semanas anteriores, soubemos da mutreta da vaquinha digital solicitada para que Bolsonaro pudesse pagar multas por descumprimento da legislação sanitária. Se não fosse o Coaf ou o jornalismo, não saberíamos que o pobre homem arrecadou e malocou em suas contas a bagatela de R$ 17,1 milhões, suficiente para pagar 17 vezes as multas recebidas —que não pagou e, provavelmente, serão perdoadas pelo governador bolsonarista de São Paulo— e equivalente a oito vezes tudo o que o honesto cidadão amealhou ao longa da vida. Quando a informação veio a público, a resposta foi ainda turbinada pela fingida autenticidade: o que sobra “dá pra tomar um caldo de cana e comer um pastel com dona Michelle”. No Bahrein, claro.

E ainda estamos às voltas com as denúncias de que o ex-presidente, como um desses ditadores fugitivos exilados no estrangeiro, teria mandado homens de sua confiança transformar em dinheiro vivo joias e valores que não eram seus. Tudo clandestino, à socapa, como convém a um homem autêntico, de família, temente a Deus, simples e, obviamente, adorador da verdade.

Comentário nosso

lgmoraisuolcombrBolsonaro “pintou e bordou”, junto com os seus seguidores, durante o seu mandato, crente de que se perpetuaria no poder, pelo menos por mais quatro anos, e que não seria desmascarado tão cedo. Terminou quebrando a cara. Suas manobras não foram suficientes para permanecer no poder, não conseguir iludir os militares por mais tempo e agora está sendo desmascarado. Ficou inelegível por oito anos. seus sequazes o estão abandonando e pode terminar até preso pelos crimes de que é acusado. E ainda tem gente se enganando, procurando justificativas e desculpas para suas estrepulias. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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