Exército entra na guerra contra o crime no Rio, mas sem tanque na rua ou operações nos morros

By | 27/10/2023 9:30 am

Modelo de GLO só é cogitado para FAB e Marinha atuarem em portos e aeroportos, enquanto Força Terrestre atuaria nas fronteiras brasileiras

Foto do autor: Eliane CantanhêdeO Exército vai entrar na guerra contra o crime no Rio de Janeiro, mas, até aqui, sem Garantia da Lei e da Ordem (GLO), sem tanque nas ruas e sem tropas subindo os morros e trocando tiros com o “inimigo”, leia-se o crime organizado e as milícias, embolados numa coisa só, desafiando o Estado e aterrorizando a sociedade. A intenção é usar a Força Terrestre na fronteiras, sobretudo nas fronteiras do Paraná e Mato Grosso, estratégicas para esse “inimigo”. Mas com limites: a responsabilidade (e culpas) continuarão com o governo do Estado e a solução é de todos os poderes e órgãos.

O que está em estudo é a aplicação da GLO, prevista na Constituição, para a Marinha agir nos portos e a Aeronáutica nos aeroportos, também pontos nevrálgicos para o crime. Já o Exército, que lambe as feridas e tenta superar os traumas da era Bolsonaro, basta usar a Lei Complementar 97, de 1999, depois atualizada como 136. Não precisa nada novo, já que a lei estabelece “atividades subsidiárias” para o Exército em três frentes: inteligência, logística e comando e controle, inclusive com uso de blindados numa faixa de até 150km nas fronteiras.

Exército vai contribuição para combater o crime no Rio de Janeiro, mas sem atuar diretamente no confronto com criminosos de facções e milícias
Exército vai contribuição para combater o crime no Rio de Janeiro, mas sem atuar diretamente no confronto com criminosos de facções e milícias  Foto: Fabio Motta/Estadão

Essa atuação das Forças Armadas, discutida na quarta-feira, 25/10, pelos ministros da Defesa e da Justiça, os três comandantes, o diretor-geral da PF e o segundo da Justiça, Ricardo Cappelli, é parte de um esforço concentrado contra o caos no Rio, que será apresentado ao presidente Lula na segunda-feira, 30/10. Envolve várias áreas do governo, até o Ministério da Fazenda, porque uma das prioridades é asfixiar financeiramente as facções e milícias.

A audácia do crime organizado é tanta que seus chefes juntam e lavam dinheiro a rodo, com a venda de gelo nas praias até a construção de prédios e condomínios, como na Zona Oeste do Rio e a Zona Sul de São Paulo, na área de Parelheiros. De gelo ao ramo imobiliário, passando por cima de leis e regras ambientais, urbanas ou qualquer outra. Vão lá, constroem em duas semanas. Vira e mexe, um prédio cai, matando uma família inteira.

Além de não assumir responsabilidades e ônus políticos que são do próprio Rio, o governo federal também tenta cuidar da própria imagem e a das FA, articulando novos modelos que não repitam as falhas e a ineficácia de antigas operações de GLO: 18 meses nos Complexos do Alemão e da Penha e 14 no Complexo da Maré nos primeiros governos Lula e nos de Dilma Rousseff, além da intervenção federal de dez meses em 2018, no Governo Temer. Até o atual comandante do Exército, general Tomas Paiva, participou de duas delas. O que sobrou disso? Nada.

Modelo de ocupação de favelas por homens das Forças Armadas, como aplicado no passado, não será novamente utilizado pelo governo federal
Modelo de ocupação de favelas por homens das Forças Armadas, como aplicado no passado, não será novamente utilizado pelo governo federal Foto: Wiltton Junior/Estadão
Aliás, sobrou uma investigação sobre desvio de dinheiro público na intervenção, à época comandada pelo general Walter Braga Neto, depois ministro da Defesa, chefe da Casa Civil, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro e hoje, com pedido de indiciamento pela CPMI do Golpe.

Sem falar que o Arsenal do Exército em Barueri, São Paulo, foi flagrado desviando armas de longo alcance justamente para o crime organizado, inclusive no Rio. A investigação afunilou para 17 prisões administrativas e sete pedidos de prisão preventiva, até de oficiais. A punição tende a ser dura, mas a cicatriz fica.

Por isso, o Exército, as Forças Armadas, a Defesa e o próprio Lula querem, de um lado, a ação militar contra o caos no Rio e, de outro, cuidado para evitar mais frustrações e danos à imagem. É por isso, aliás, o consenso de que para frente, pode ser. , mas não é hora de retomar a Comissão da Verdade sobre a ditadura militar. Parece que nunca é hora…

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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