Depoimentos de Cid na delação expõem as entranhas do bolsonarismo no poder

By | 01/11/2023 7:45 am

 

Logo que as primeiras notícias de que Mauro Cid negociava um acordo de delação premiada vieram a público, quando ele ainda estava preso, interlocutores do tenente-coronel fizeram chegar ao entorno de Jair Bolsonaro recados de que o ex-presidente seria poupado na delação.

Crente nessa promessa, Bolsonaro chegou a dar entrevista elogiando Cid e chamando o ex-ajudante de “bom garoto”. A equipe de defesa acreditava que Cid faria uma confissão sobre o repasse de dinheiro da venda das joias e não implicaria o ex-presidente em nenhum outro esquema. A defesa também minimizava a importância de Cid como braço-direito de Bolsonaro, dizendo que ele não testemunhava todas as conversas e nem sabia de todos os segredos do ex-presidente.

As revelações trazidas em reportagens do UOL publicadas nas últimas semanas mostram que a realidade é completamente diferente. A delação premiada homologada no início de setembro ainda está sob sigilo, mas os fatos que já vieram à tona são politicamente tóxicos para o ex-presidente.

Sombra de Bolsonaro no Palácio, Mauro Cid entregou à PF o envolvimento de seu ex-chefe em temas como falsificação de certificados de vacinas, tratativas de golpe de Estado e até mesmo uma aloprada ideia de esconder aliados que estavam prestes a serem presos, como revelado pelo UOL nesta terça-feira (31).

Para a PF, a informação mais comprometedora foi a revelação de um plano de golpe articulado por Jair Bolsonaro, com uma minuta preparada por seu ex-assessor Filipe Martins, e a concordância do então comandante da Marinha, Almir Garnier. O plano só não foi adiante porque não teve o consenso dos demais comandantes das Forças Armadas.

O relato inédito foi considerado essencial para fechar o acordo de delação premiada. Até agora, a defesa do ex-presidente tem negado sistematicamente cada uma das acusações feitas por Cid na delação. Filipe Martins e Almir Garnier nunca se pronunciaram sobre os fatos.

Mais do que isso: Cid traçou à PF um panorama do papel dos principais personagens do bolsonarismo nos ataques à democracia.

Em seus depoimentos, o ex-ajudante de ordens fez um raio-x do chamado Gabinete do Ódio, grupo de assessores palacianos suspeitos de comandar os ataques às instituições democráticas nas redes sociais, e também detalha a atuação dos principais ministros e políticos aliados de Bolsonaro nesse processo.

O próprio Cid servia de interlocutor de vários segmentos radicais no Palácio do Planalto. Por isso, o tenente-coronel foi capaz de traçar uma linha separando quem poderia mesmo influenciar Jair Bolsonaro de quem só apresentava bravatas.

O relato do tenente-coronel também tem um grande peso por seu ineditismo: é a primeira delação premiada saída de um oficial superior das Forças Armadas e também de dentro do núcleo duro do governo de Jair Bolsonaro.

A fase atual do acordo de delação, entretanto, é a mais essencial para o prosseguimento das investigações. Agora, a defesa de Cid e a Polícia Federal realizam diligências para obter provas de corroboração para os relatos do tenente-coronel. É o desfecho desta fase que dirá se a delação terá valor legal como prova de acusação ou se constituiu apenas de conversa fiada.

No material que a PF está analisando e comparando com o teor dos depoimentos estão celulares apreendidos, comunicações realizadas entre os investigados, quebras de sigilo bancário e registros de entrada e saída em prédios públicos como o Palácio da Alvorada. A investigação ainda está longe de um desfecho.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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