Um tsunami de violência se alastra por todo o Brasil, e esse parece ser o ‘novo normal’ (com comentário nosso)

By | 19/01/2024 9:14 am

A falta de respeito por leis e regras mínimas de convivência tem dado a tônica no País

(Elena Landau,  economista e advogada, no Estadão, em 18/01/2024)
Foto do author Elena LandauPassei o fim de ano numa ilha da fantasia. Não pela natureza do lugar, nisso o Rio é imbatível. Foram três semanas sem olhar por cima do ombro ou andando pela calçada sem medo de ser atropelada. Essa tranquilidade virou sinônimo de férias. Mas, bastou um dia, e meu estado zen foi para espaço. Quase passei por cima de uma moto que ignorou o sinal vermelho. Perplexo, meu neto no banco de trás voltou a questionar: “Vovó, no Brasil moto pode avançar sinal?” Não, não pode.

A falta de respeito por leis e regras mínimas de convivência é o novo normal. Ser assaltado virou parte do dia a dia dos cidadãos. A resposta da polícia é “não dê bobeira com seu celular”. Há uma sensação de impunidade generalizada: bandidos voltam facilmente às ruas; milicianos são prestadores de serviços públicos em comunidades indefesas e a corrupção é tolerada.

Um tsunami de violência está se alastrando pelo País. As redes sociais compartilham a ficha corrida de quem acaba de cometer um crime, seja roubo, seja homicídio. Quase todos têm inúmeras passagens pelo sistema penal, vários com mandados de prisão expedidos, quando não são fugitivos que saíram da cadeia pela porta da frente. Um regime de progressão automática coloca nas ruas condenados por crimes de maior gravidade.

Há algo de errado com nosso sistema jurídico quando os custos em descumprir a lei são bem menores do que seus benefícios. E isso se aplica do cidadão que “estaciona” em fila dupla à corrupção em altos níveis de governo, incluindo o aumento dos níveis de violência.

Placas de alerta sobre roubos de celulares chegaram a ser colocadas próximas ao cruzamento da Avenida Faria Lima com a Avenida Rebouças, na zona oeste de São Paulo, em setembro de 2023
Placas de alerta sobre roubos de celulares chegaram a ser colocadas próximas ao cruzamento da Avenida Faria Lima com a Avenida Rebouças, na zona oeste de São Paulo, em setembro de 2023 Foto: Werther Santana / Estadão

A população amedrontada quer uma resposta. Mas não confia nas instituições. O exemplo que vem de cima não é bom. Vários governadores já foram presos, inúmeros policiais estão diretamente envolvidos com milícias. O novo ministro da Justiça, um ex-ministro do STF, virou consultor de grupo envolvido em denúncias de propina logo que saiu do Supremo. Decisões monocráticas do STF vão anulando multas bilionárias decorrentes de delações voluntárias. Mais um pouco, vamos ter de pagar indenização para corruptos confessos.

A sociedade está perdendo a paciência, se sente desamparada pelo Estado. Tem raiva e medo. Já vimos isso com a onda de justiceiros que surgiu após uma série de assaltos e arrastões em Copacabana. Imagens violentas de “justiça com as próprias mãos” recebem milhares de curtidas e centenas de compartilhamentos.
Comentário nosso
Qualquer um que pare para pensar um pouco vai verificar que a violência nunca esteve não grande no país. E não é só nas grandes cidades.  Resido em João Pessoa há quase trinta anos. Durante muito tempo, saí de casa, a cerca de setecentos metros da praia, a pé, para caminhar na praia.  Há uns cinco anos fui assaltado na calçada do meu prédio em Tambaú.  Depois disso, Arlene foi assaltada também há vinte metros da praia.  Em São José do Bonfim já se mata alguém porque estava traficando com droga. Há mais de trinta anos tenho uma granjazinha no município para onde antigamente ia de moto, até durante a noite. Hoje não tenho mais coragem de ir de moto, por que já tomaram muitas motos no trajeto de Patos para o Bonfim e do Bonfim para meu setor na Malhada de Pedra.  Em Patos, há facções que vivem se dilacerando, matando-se uns aos outros. Além das mortes provocadas entre traficantes, ou tendo como vítimas usuários de drogas.
No Rio de Janeiro, as milícias estão tomando conta das periferias e os assaltos em plena Copacabana acontecem a toda hora. Cinquenta anos atrás passei cinco meses no Rio de Janeiro, onde a gente andava por toda parte sem temor de qualquer forma de violência. Em São Paulo ainda se andava de noite, a pé, e tranquilamente, há quarenta anos atrás, quando lá passei alguns dias.  Alguma coisa tem que ser feita para reverter a situação. Alguém pode dizer que a violência é generalizada no mundo todo. E isto realmente acontece no mundo todo, mas nós estamos caminhando para estar entre os países mais violentos do mundo. É um campeonato que não nos interessa.  Alguns países têm revertido situações de violência e isto é possível fazer no Brasil.  Para isso, entretanto, precisa um Governo que realmente queira agir para reverter esta situação de violência. Não se pode agir com politicagem num assunto desta importância. Ou se quer resolver ou se quer apenas passar a mão da cabeça dos bandidos para não perder votos.  (LGLM)

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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