Operação atinge alto escalão de uma máquina que atuou para interferir no processo democrático
(Bruno Boghossian, Jornalista da Folha, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA). Em 08/02/2024)
Os alvos da operação da Polícia Federal nesta quinta-feira (8) foram alguns dos principais integrantes dessa conspiração, liderada de maneira pouco discreta por Bolsonaro. Ainda que houvesse barulho em público, a revelação dos detalhes do envolvimento de cada personagem dependeu de uma testemunha com acesso privilegiado à trama golpista.
A delação do coronel Mauro Cid, auxiliar inseparável de Bolsonaro, abasteceu a ação da PF contra a cúpula da organização. Foi o ajudante de ordens o autor de depoimentos sobre a atuação direta do então presidente e de outros dois nomes-chave: o ex-assessor Filipe Martins e o almirante Almir Garnier dos Santos.
Cid revelou episódios que deram materialidade ao complô e derrubaram a versão de que a tentativa de golpe era um delírio de vovós e militantes amalucados. Segundo o coronel, após a derrota na reeleição, Martins levou ao presidente a minuta de um decreto para segurar Bolsonaro no poder, convocar novas eleições e prender autoridades.
Além dos personagens delatados por Cid, a ação da PF chegou a personagens que deram respaldo institucional à trama. Ali estavam o general Walter Braga Netto, que inaugurou a instrumentalização do Ministério da Defesa para detonar a credibilidade das urnas eletrônicas, e Valdemar Costa Neto, que usou o PL como veículo para contestar a votação.
A operação atingiu o alto escalão de uma máquina que usou recursos políticos e militares para interferir no processo democrático.
Comentário nosso
E ainda há quem ache que isso é revanchismo político e que não devia estar sendo objeto de apuração. Uma tentativa escancarada de dar um golpe militar que manteria no poder o que de mais irresponsável políticamente alcançou o poder neste já tão escrachado país. O golpe militar de 1964, que depois degenerou, na sua deflagração tinha alguns motivos até defensáveis e foi conduzido por pessoas decentes. O golpe articulado em 2022 manteria no poder a escória da política e as vivandeiras de quartéis. Podemos até não estarmos nas condições ideais, mas escapamos por um triz de entrarmos numa situação calamitosa! (LGLM)