Quem quiser alçar voos à Presidência terá que se equilibrar entre a lealdade bolsonarista de um lado e o apego à ordem institucional do outro
De imediato, Tarcísio mexeu apenas no segundo lado da balança ao afastar o major da reserva Angelo Martins Denicoli, um dos alvos da operação da PF, do cargo que ocupava no governo de São Paulo. De resto, Tarcísio e Zema, assim como outros governadores do Sul e do Sudeste, têm evitado se manifestar sobre a operação da PF contra o ex-presidente. Serão cobrados por isso pela militância bolsonarista. Principalmente Tarcísio, que se elegeu em São Paulo apadrinhado por Bolsonaro. Cedo ou tarde, ele precisará sinalizar que compartilha de algumas das dores do bolsonarismo para equilibrar a balança do seu capital político.
Essas dores são as mesmas desde que Bolsonaro foi derrotado nas urnas em 2022, mas foram potencializadas quando a PF bateu à porta de seus aliados e recolheu o seu passaporte, na semana passada: a crença de que o “sistema” atuou contra a “verdadeira” vontade da maioria nas eleições, a convicção de que Bolsonaro e seu entorno sofrem perseguição política e a percepção de que os valores conservadores estão sob grave ameaça.
Solucionado o dilema entre lealdade bolsonarista e rechaço ao golpismo, Tarcísio e Zema podem até se beneficiar com o encontro de Bolsonaro com a Justiça. Nenhum dos dois pertence ao PL, o partido do ex-presidente que está sendo sugado junto para o buraco das suspeitas de tentativa de golpe. Além disso, as restrições impostas a Bolsonaro, como a proibição de falar com os outros investigados, reduzem bastante sua capacidade de articulação política. Isso abre espaço para que seus herdeiros políticos conquistem um pouco mais de autonomia. Não há vácuo no poder.
Comentário nosso
Tarcício e Zema, sem pretende sair candidatos a presidente em 2026, vão ficar na “corda bomba” até lá. Não podem se distanciar de Bolsonaro sob pena de perderem o patrimônio eleitoral que podem herdar das hordes do ex-presidente. Nem podem se deixar envolver com os “maus-feitos” que são atribuídos à equipe do ex-presidente, tanto durante os quatro anos de governo, como nas manobras que fizeram na tentativa de um golpe de Estado, além das traquinagens de 8 de janeiro de 2023.