Se você não quer criar ‘cretinos digitais’, faça seus filhos ler (comentário nosso)

By | 07/03/2024 7:07 am

Novo livro do neurocientista francês Michel Desmurget defende que livros são o melhor antídoto contra o empobrecimento da linguagem, dificuldade de concentração e outros problemas causados pela overdose de telas

(Luciana Garbin, Editora no ‘Estadão’, professora na FAAP e mãe de gêmeos, em 

NaFoto do author Luciana Garbin última reunião de pais no colégio, a professora de um dos meus filhos fez um apelo: “Por favor, peçam a seus filhos para lerem mais em casa, porque as leituras que fazemos na escola não são suficientes”. Com uma penca de disciplinas para ensinar, fui obrigada a concordar com ela e saí disposta a colaborar. Mas a lição de casa tem se revelado mais árdua com tantos jogos, telas e recursos digitais disponíveis a um clique. Em muitas famílias, fazer crianças e adolescentes focarem apenas no bom e velho livro virou desafio hercúleo hoje em dia.

E é justamente dele que trata o livro Faça-os ler! Para não criar cretinos digitais (Editora Vestígio), do neurocientista francês Michel Desmurget. Especializado em neurociência cognitiva, ele atua no Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França e se tornou mais conhecido depois do best-seller A fábrica de cretinos digitais: o impacto das telas para nossas crianças. Nele, apresenta pesquisas feitas em países europeus que sustentam, entre outros pontos, que os “nativos digitais” podem ser os primeiros filhos a ter QI inferior ao dos pais.

Gosto pela leitura não é inato e precisa ser transmitido, de preferência pelos pais ou cuidadores
Gosto pela leitura não é inato e precisa ser transmitido, de preferência pelos pais ou cuidadores Foto: Adobe Stock

Segundo o autor, o abandono da leitura pelas novas gerações tem consequências não só no desempenho escolar, como também no vocabulário, na estruturação do pensamento, na nutrição da memória e na apropriação de conhecimentos complexos. A troca do livro pelo uso massivo de telas também está ligada a prejuízos no sono e na aquisição da linguagem, problemas de concentração e aumento da ansiedade e do risco de obesidade.

Esse recuo generalizado da leitura é sentido de forma mais marcante pelo meio universitário. Desmurget destaca em seu novo livro que pesquisas mostram que muitos estudantes sabem que é importante ler, sabem que os professores esperam que eles leiam e sabem que isso terá impacto em suas notas. Mesmo assim, não leem. E aí é que o problema se agrava porque os não leitores de hoje serão os professores de amanhã.

Desde o surgimento da linguagem, a humanidade não encontrou nada melhor que a leitura para estruturar o pensamento, organizar o desenvolvimento do cérebro e civilizar nossa relação com o mundo. O livro literalmente constrói a criança em sua tripla dimensão intelectual, emocional e social. Portanto, o brusco declínio dessa atividade nas novas gerações constitui um verdadeiro desastre para a fertilidade coletiva de nossa sociedade; e isso é ainda mais verdadeiro porque o desaparecimento da leitura ocorre em prol de uma cultura digital recreativa, certamente mais lucrativa para seus diversos atores industriais, mas cuja natureza embrutecedora é hoje definitivamente comprovada por um vasto conjunto de estudos científicos, com influências negativas, entre outros exemplos, na linguagem, na concentração, na impulsividade, no sono, na ansiedade e no desempenho escolar.”
Desmurget defende que é hora de demonstrar que a leitura “por prazer” de maneira alguma constitui uma prática elitista, reservada a alguns privilegiados eruditos, mas sim é uma necessidade urgente de desenvolvimento para as crianças. Só há um problema: o gosto pela leitura não é inato. Ou seja, não brota espontaneamente em todos os seres humanos – precisa, em vez disso, ser transmitido. E aí nada como os pais – ou cuidadores – para assumir essa missão.

“Vasculhei a literatura científica em todas as direções e não encontrei um antídoto melhor para a estupidificação das mentes do que a leitura”, escreve o pesquisador francês. “Ela é uma verdadeira máquina para moldar a inteligência em sua dimensão cognitiva (aquela que permite pensar, refletir e raciocinar), mas também, de maneira ampla, socioemocional (aquela que permite entender a si mesmo e aos outros, para benefício das relações sociais). O leitor é o anticretino digital!”

Desmurget lembra ainda que a tarefa é mais simples quando a criança é pequena, mas sempre é tempo de começar. “Claro que alguns pais podem se arrepender de não ter feito o suficiente porque não sabiam ou, mais comumente, não podiam. Todos carregamos essas amarguras. Mas, felizmente, no reino dos livros, nada está realmente perdido: não importa a idade, o sexo, as possíveis resistências ou as dificuldades escolares, o acesso aos benefícios (e prazeres) da leitura está sempre aberto, mesmo para supostos leitores esporádicos.” A dica é, portanto, arregaçar as mangas.

Aqui em casa, uma experiência que tem dado certo é trocar créditos de leitura por créditos em telas – uma hora de leitura, por exemplo, dá direito a determinado período de jogo. Ainda há reclamações, mas outro dia escutei uma frase do meu filho que me deixou animada: “Sabe, mamãe, que estou achando esse livro melhor que alguns programas do YouTube…?”.

Comentário nosso
Segundo o tradicional dicionário Aulete,  cretino é ” Indivíduo que apresenta acentuada deficiência mental; idiota, imbecil”. Mas registra também outro significado para a palavra: aquele “Que é desrespeitoso nas atitudes; atrevido, desabusado, insolente.”  O cientista francês tem toda razão. Quem “emprenha” pelos olhos e pelos ouvidos na internet e na televisão, passa a ser um mero decoreba. Ele não tem opiniões, ele repete as opiniões alheias.  Por isso a importância da leitura. Ela leva a refletir, leva a pensar, a discutir com quem lhe está próximo as informações que leu. Eu sou desde a adolescência um leitor compulsivo. Nas horas vagas de seminário eu ia lendo os livros da biblioteca e os li quase todos. Depois de seis anos de seminário está viciado e hoje sou leitor compulsivo até hoje. Mesmo no computador, praticamente só leio e escrevo. Mas continuo comprando e lendo livros. Leio uma média de dois livros por mês, principalmente romances e livros de história, além das leituras diárias de passagens da Bíblia. Nas minhas viagens, entre João Pessoa e Patos, muitas vezes levo um livro, para o caso de não ter como companheiro ao lado alguém que goste de conversar. Ao mesmo tempo sou assinante da Amazon o que me permite ter no celular livros digitais que posso ler sempre que estiver com o celular ao alcance. Meus cinco filhos mais velhos também são viciados em ler e talvez por isso se deram bem nos estudos e estão se dando bem profissionalmente. Quatro deles foram admitidos por concurso e um é profissional liberal no exercício da Medicina. A matéria acima é muito lúcida e muito importante. Oriente os seus a ler. O livro pode acompanhá-lo a qualquer parte. E a lei vai fazer com que eles tenham uma base de conhecimentos inestimável. (LGLM)

Comentário

Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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