(Jornalista e professor Misael Nóbrega de Sousa, em 29/03/2024)
Meia-noite. O andor desce os degraus da igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Patos, e segue pelas ruas da cidade numa procissão inusitada. As matracas organizam a multidão de homens que se forma apressada, como se surgisse de todas as esquinas do mundo.
O Senhor morto é carregado nos ombros de concidadãos bucólicos para que jamais seja enterrado na incredulidade terrena.
Nas pedras mosaicaidas que se estendem doravante, a comunhão com o altíssimo; debulhando as contas do rosário aquelas pobres criaturas vão cumprindo a sua própria penitência. A força dos pés golpeando o chão emite um som de marcha para o céu.
Às portas das casas, emolduradas, mulheres contemplam a passagem daqueles que suportam o tempo embrutecidos pela vida. E, só depois, voltam-se para dentro de si mesmas; não sem antes pedirem para que a alma de seus homens regresse menos atribulada.
O recebimento do corpo de Cristo se dá na Catedral de Nossa Senhora Daguia, como acontece tradicionalmente e não como uma liturgia da igreja: “Bem-aventurados os que aqui chegam nesta madrugada para a honra e glória do Senhor “. E um coro de mil vozes responde em uníssono: – Amém.
A procissão dos homens não existe em nenhum outro lugar, a não ser dentro do coração de cada peregrino. É por isso um momento para se refletir sobre: renúncias e sacrifícios; a iniciação dos filhos varões na retidão; o beijo à modelagem/imagem em absolvição aos erros e iniquidades… – Antes de se debandar de vez, cônscios de que aquele não é um percurso ordinário de obediência aos costumes, mas de elevação espiritual e renovação da fé.