Bolsonaro age como coadjuvante em ato em Copacabana e mostra como Moraes é figura temida no País

By | 22/04/2024 7:13 am

Ex-presidente terceirizou ataques a ministro do STF durante manifestação no Rio de Janeiro

 

(Fabiano Lana, filósofo e consultor político, no Estadão, em 21/04/2024)

Foto do author Fabiano LanaNa manifestação de hoje na praia de Copacabana, Rio de Janeiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro preferiu ser coadjuvante de sua própria festa. Quem deu os recados e partiu para o ataque contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, foi o pastor Silas Malafaia.

Ex-crítico do “mi-mi-mi”, Bolsonaro, como uma pomba, preferiu posar de vítima, desancar o atual presidente Lula, e fazer comparações entre seus governos. Malafaia, como um falcão, chamou o juiz da suprema corte de “ditador”, “censor da democracia” e, para Rodrigo Pacheco, responsável por pautar um eventual impeachment de Moraes, ofensas que vieram nas qualificações de “covarde, frouxo e omisso”.

Ato em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro em Copacabana. (Photo by MAURO PIMENTEL / AFP)
Ato em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro em Copacabana. (Photo by MAURO PIMENTEL / AFP) Foto: Mauro Pimentel/AFP

A postura tíbia de Bolsonaro, que preferiu atacar Lula como “maior ladrão da história do Brasil,” e poupar um ministro do Supremo, mostra que hoje Alexandre de Moraes é a figura mais temida e poderosa do Brasil. Se por um lado ele pode ter tido uma atuação fundamental para desnudar uma tentativa de golpe, por outro, alguns de seus excessos são hoje o principal combustível que mantêm as franjas mais radicais da população brasileira com argumentos para a luta política belicosa.

Malafaia e Bolsonaro com certeza agiram afinados. O pastor esticou a corda em sua fala severa. E, se for punido, provará sua tese de que no Brasil, assim como nas ditaduras, foi instituído o crime de opinião. Não por caso, lembraram hoje do certo apreço que o PT possui pelas ditaduras de esquerda, que é de fato um calcanhar de Aquiles de Lula.

Outra frase de Bolsonaro deu um certo tom épico de um grupo político que deseja ser visto como perseguido. “O sistema quer completar Juiz de Fora”, afirmou, o ex-presidente, numa certa metonímia de que o querem morto, trabalhando na ambiguidade do risco de ser politicamente ou fisicamente eliminado. Nesse sentido, a linha do bolsonarismo é se transformar exatamente no contrário do que eles são acusados. De maneira nenhuma eles seriam golpistas que desejariam uma intervenção militar, mas apenas defensores de uma democracia ameaçada, principalmente pelo Supremo Tribunal Federal, e em especial por Moraes.

E querem ainda um tom mundial a essa batalha. Com a participação, segundo eles, até do “herói da liberdade” Elon Musk, a quem Bolsonaro dedicou uma salva de palmas. “Querem censurar as redes sociais, porque a direita domina a internet”, afirmou, anteriormente, o deputado Nikolas Ferreira, que é o mais votado no Brasil. Outro deputado radical, Gustavo Gayer, preferiu dizer, em inglês, que a praia de Copacabana recebia “guerreiros da liberdade”, num sinal de que hoje, de fato, a direita tem conseguido se organizar de maneira internacional, enquanto a esquerda se perde em pautas divisivas entres os grupos da sociedade. Em discurso mais contido do que o ocorrido em fevereiro, na Avenida Paulista, Michelle Bolsonaro preferiu deixar de lado as pregações contra o Estado Laico e se concentrar na pauta feminina, “não feminista”, esclareceu.

O evento de hoje mostra que cada vez mais aumentam as pressões sobre a atuação de Alexandre de Moraes. E não tem sido só a partir dos radicais da extrema-direita. Quem está no centro já levanta as sobrancelhas para certas ações que não conseguem mais justificar. A opacidade do trabalho do ministro tem ficado insustentável. Para continuar com apoio político terá de mudar de estilo. No mínimo, justificar melhor à sociedade brasileira por quais razões tem, de fato, exercido a censura. Se isso não ocorrer, o bolsonarismo, cujas credenciais democráticas são bastante duvidosas, poderá fazer algo em que o PT sempre foi bem-sucedido a despeito dos fatos, se transformar de vilão em vítima injustiçada.

Comentário nosso

A nosso ver, Malafaia faz uma jogada dupla. De um lado, tenta se apresentar como um possível substituto de Bolsonaro nas eleições de 2026. De outro lado, quer jogar os evangélicos contra o Supremo e o Governo de modo geral, se oferecendo como um mártir, no caso de uma prisão ou um processo movido pelo Supremo. Bolsonaro de sua parte, preferiu endeusar um direitista americano de quem espera suporte para seus sonhos de golpista, ao mesmo tempo que tenta evitar um agravamento de sua situação nos processos atuais e futuros. Como resultado uma mobilização esvaziada, com público de comício de porte médio, em cidade grande. (LGLM)

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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