Para além da corrosão da renda dos mais pobres, as bets têm fortalecido o poder paralelo no Brasil (confira comentário nosso)

By | 30/09/2024 3:04 pm

Investigações em curso dão conta de que as empresas de aposta online vêm contribuindo para esquemas de lavagem de dinheiro, incluindo de facções criminosas

(Celso Ming, Jornalista e comentarista de economia, no Estadão, em 28/09/2024)

Foto do author Celso MingTarde demais, o presidente Lula levou um susto ao tomar conhecimento de que, somente em agosto, R$ 3 bilhões (21%) dos R$ 14 bilhões repassados para famílias do Bolsa Família foram utilizados em plataformas de aposta online, apenas com pagamentos via via Pix. Cerca de 5 milhões de pessoas das 20 milhões de famílias apostaram com o dinheiro do programa.

Essas casas de apostas faturaram cerca de R$ 100 bilhões em 2023, dinheirama que foi desviada do consumo e dos investimentos. Celebridades são contratadas por milhões de reais para fazer publicidade, camuflada por apelos “a apostas com responsabilidade”, eventos, times de futebol e programas de TV estampam as marcas dessas bets.

As distorções produzidas por essa modalidade de jogatina online vêm sendo denunciadas por analistas. Nunca será demais insistir na reivindicação de que se reveja a atual regulamentação tão perniciosa.

Esta Coluna se volta para focar em outra atividade criminosa difundida por essas bets. Trata-se da lavagem de dinheiro, que produz sérias consequências sobre a vida política e sobre a arrecadação. Não há estatísticas confiáveis sobre quanto as bets concorrem para com essas práticas. Mas há fatos e há indícios suficientemente alarmantes de que vão adquirindo grandes proporções.

cantor Gusttavo Lima, proprietário de 25% de uma casa de apostas online, está sendo acusado de lavagem de dinheiro e de conivência com a bandidagem. Também se multiplicam informações de que organizações criminosas, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), vêm usando as bets para lavar dinheiro do tráfico e financiar suas atividades.

Segundo estudo do Banco Central, o volume mensal de transferências via Pix de pessoas físicas para empresas de apostas online variou entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões de janeiro a agosto. Especialistas alertam sobre os danos dos jogos de azar à saúde.
Segundo estudo do Banco Central, o volume mensal de transferências via Pix de pessoas físicas para empresas de apostas online variou entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões de janeiro a agosto. Especialistas alertam sobre os danos dos jogos de azar à saúde.  Foto: Ilustração: Marcos Müller/Estadão

Essas atividades a gente já sabe quais são. Além de espalhar o tráfico de drogas, dedicam-se ao aliciamento de políticos, a “convencer” juízes e a promover lobbies que aprovem leis do seu interesse nas três instâncias de governo para controlar a máquina pública, como a dos transportes coletivos na cidade de São Paulo, da qual arrancam mais recursos para seus objetivos.

Essas bets não atuam apenas para corroer o poder aquisitivo da população vulnerável e empurrá-la para uma vida mais miserável. Concorrem para o fortalecimento do poder paralelo que, além de quebrar o monopólio da força, prerrogativa do Estado, trabalha para minar a capacidade de governança.

As casas de apostas online foram legalizadas em 2018, no governo Temer, mas a regulamentação só foi sancionada no início de 2024 – mais para saciar a fome arrecadatória do governo Lula do que para organizar o segmento. Um dos argumentos mais usados para justificar a nova lei foi o de que contribuiria para aumentar a arrecadação em pelo menos R$ 3 bilhões por ano. Ora, entre os efeitos pretendidos pela lavagem de dinheiro está o de sonegar impostos.

O temor é o de que o alastramento dessa febre aumente a inadimplência, que hoje atinge mais de 25% das famílias brasileiras e, em consequência, eleve os custos do crédito.

Comentário nosso – Além de corroer as economias das faixas mais sacrificadas financeiramente da população, os jogos online estão levando muita gene ao desespero com as dívidas contraída e praticando do suicidio ao assassinado de parentes, o que vem sendo mostrado diariamente pelo noticiário. Os empresários só pensam nos lucros, o Governo no imposto que arrecada e os bandidos nas facilidades para lavarem o dinheiro mal adquirido. Resta à população chorar pelos prejuízos. Na realidade joga quem quer. Mas a lei deve destinar estes jogos para quem pode e sempre de olho na bandidagem. (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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