O pacote anti-STF. Chantagem sobre os ministros do Supremo

By | 12/10/2024 7:38 am

Aprovação de PEC que permite ao Legislativo derrubar decisões do Supremo minaria princípio da separação dos Poderes

 

(Hélio Schwartsman, na Folha, em 11/10/2024)

Hélio SchwartsmanAntes de mais nada, deve-se distinguir o que é só jogo de cena daquilo que é para valer. A proposta de emenda constitucional (PEC) que permite ao Legislativo derrubar determinações do Judiciário é do primeiro tipo.

A introdução de um mecanismo com esse teor no arcabouço institucional brasileiro minaria o princípio da separação dos Poderes. A medida é tão gritantemente inconstitucional que dá para afirmar que a PEC, se aprovada, seria invalidada pelo STF, por violar cláusula pétrea.

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Parlamentares da oposição comemoram a aprovação da PEC que limita os poderes do STF (Supremo Tribunal Federal), em Brasília – Pedro Ladeira/Pedro Ladeira – 22.nov.23/Folhapress

Os parlamentares obviamente sabem disso. Insistiram no trâmite da PEC, que passou pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, para pôr pressão política sobre os integrantes do STF, que vem tomando decisões que desagradam aos deputados, notadamente as relativas a emendas.

É um pouco como o restaurante que põe no cardápio um prato estupidamente caro apenas para aumentar os pedidos do segundo e do terceiro pratos mais caros. O cliente se sente psicologicamente desimpedido para escolher esses itens e até mesmo virtuoso por ter feito uma opção econômica. Os pratos número dois e três já estão no menu. São a PEC que restringe o poder de magistrados de invalidar leis por decisão monocrática e os projetos de lei que facilitam o impeachment de ministros do STF.

Para não dizer que os deputados estão completamente equivocados, o excesso de decisões monocráticas é um problema real, que vem contribuindo para o desgaste do Supremo. A própria corte já alterou seu regimento interno para tentar amenizar os efeitos dessa patologia, sem muito sucesso. Mesmo assim, não dá para dizer que o texto da PEC encerre uma fórmula satisfatória para lidar com a questão.

Já as mudanças propostas para o impeachment de magistrados criam tipos criminais tão vagos que parecem desenhadas para tentar manter os julgadores sob controle parlamentar —o que não deixa de ser uma forma de desequilibrar o jogo.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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