(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista e professor, em 15/10/2024)
Entre as inúmeras homenagens feitas aos professores, uma frase em especial me chamou a atenção: “Educador é aquele que confecciona asas.” Essa metáfora captura a essência do desafio de ensinar, pois, em meio ao tradicional processo de ensino-aprendizagem, o professor é muitas vezes “orientado” a formar indivíduos padronizados. No entanto, ele falha gloriosamente nessa missão quando se apaixona pelos alunos, oferecendo-lhes não apenas conhecimento, mas o mais valioso dos dons: o livre-arbítrio – uma lição que não se encontra nos livros.
Por isso, o professor é uma insígnia do tempo, cujo valor só é plenamente reconhecido anos depois, quando se torna uma doce lembrança, um vínculo de gratidão pelas histórias entrelaçadas ao longo da vida acadêmica. O amor não está em nenhuma prova. E esse é o seu maior carma: transformar meninos em homens, usando o teorema de Pitágoras, enquanto, na verdade, está “confeccionando asas” através de uma relação afetuosa e de cuidado.
O professor não detém o segredo do universo, é alguém profundamente humano. Ele se mantém contido, discreto, quando muitas vezes gostaria de transbordar. E chora silenciosamente cada vez que precisa reprimir algo em si ou nos outros. Seu espaço de realização é aquele quadrilátero da sala de aula que é, ao mesmo tempo, um extrato do mundo.
Como Dom Quixote movendo os moinhos de vento, o professor é um inquieto, sempre questionando seus próprios valores, enquanto incentiva os alunos a revolucionarem os seus próprios destinos. As pessoas desejam respostas prontas, mas o professor ilumina o caminho. Aprendemos com nossos pais, com o vizinho, com a palmatória ou até com uma pedra no sapato. Mas é o professor que nos ensina a pensar – e é por meio desse exercício que nos tornamos verdadeiramente livres.