(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista e professor, em 17/10/2024)
As eleições municipais, a cada ciclo, revelam o teatro da democracia. A campanha é intensa, a disputa acirrada, e a esperança popular renasce com a promessa de mudança. Mas, quando as urnas são abertas, quantos foram eleitos sem ceder à prática corriqueira de compra de votos? Essa é uma das perguntas que mais incomodam e provocam reflexão.
A Câmara Municipal de Patos oferece 17 vagas, hoje ocupadas por aqueles que se dizem “eleitos pelo povo”. Mas qual é a verdade por trás dessas cadeiras? O poder econômico ainda dita o ritmo nas periferias, onde o cidadão, muitas vezes, se vê refém de necessidades básicas que se tornam moeda de troca para quem busca a reeleição ou sua estreia no cargo.
E sobre a moral dos que ocupam essas cadeiras? Quantos estão ali sem se envergonhar de suas práticas? Quantos reeleitos podem dizer que mereceram essa nova chance? Ou será que o mandato foi apenas mais uma extensão de suas alianças políticas, garantidas por benefícios e conchavos?
Os novatos trazem consigo novas expectativas. Mas quantos desses eleitos pela primeira vez realmente têm serviços prestados à sociedade? Quantos construíram sua trajetória com a comunidade, antes de aparecerem nas portas em tempos de eleição? A política não deveria ser lugar de experimentação, mas, na prática, muitos chegam sem um histórico de dedicação ao público.
Mais preocupante ainda é a questão da subordinação ao poder executivo. Quantos vereadores, eleitos para legislar e fiscalizar, são na verdade marionetes do prefeito? Quantos devem seus mandatos àquele que estendeu benefícios e verbas em troca de fidelidade cega? A Câmara deveria ser uma casa independente, mas quantos podem dizer, com firmeza, que não se ajoelharão diante dos caprichos do chefe do executivo?
Por fim, o questionamento que talvez seja o mais importante: quantos desses inclitos eleitos são verdadeiramente independentes? Quantos têm coragem de lutar contra o sistema, de se posicionar a favor do povo, mesmo quando isso significa ir contra os interesses daqueles que os elegeram por conveniência?
Essas perguntas ecoam nas ruas, nas conversas informais e nos debates políticos. Enquanto não forem respondidas, a dúvida continuará pairando sobre a legitimidade da Câmara Municipal. Afinal, o voto pode ser secreto, mas as práticas políticas, nem tanto. Até quando meu povo, até quando?