A senilidade lulopetista

By | 18/10/2024 7:07 am
Imagem ex-libris“O governo precisa tomar um chacoalhão”, sugeriu à repórter Vera Rosa o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha. Integrante da velha-guarda do Partido dos Trabalhadores (PT), Cunha pregou ao Estadão a necessidade de reformulação do partido após os maus resultados das eleições municipais, assim como a importância de o governo do presidente Lula da Silva “entender os sinais que estão aparecendo na sociedade” e corrigir seus problemas para enfrentar os próximos dois anos – leia-se: preparar o terreno para a disputa presidencial de 2026.

Foi mais uma entre muitas análises que expressam a perplexidade de um partido, o PT, e da esquerda marxista, que vê o mundo exclusivamente sob o prisma da luta de classes, diante da hemorragia de votos e de simpatia em setores antes tidos como cativos. Hoje, para resumir, o Partido dos Trabalhadores não representa os trabalhadores, apenas os sindicatos – que, na datação do mundo do trabalho, estão na idade da pedra.

Cunha ecoou o que Lula já reconhecera dias antes. “Temos que rediscutir o papel do PT”, avaliou o presidente ante derrotas fragorosas no Brasil. Ao seu estilo, Lula sugeriu a “rediscussão” do papel do seu partido, como se ele próprio não fosse responsável pela crise, ao interditar a renovação e ao atrelar o PT a imperativos puramente eleitorais. Mesmo os petistas mais empedernidos admitem que o resultado das eleições municipais foi péssimo se comparado a anos como 2012, quando também ocupava a Presidência, e um sinal evidente da desidratação da esquerda, da consolidação da direita e da relativa diluição da polarização entre o lulopetismo e o bolsonarismo.

As agruras lulopetistas, contudo, não têm a menor importância para o Brasil. O que, sim, interessa é observar que não é bom para o País que haja qualquer hegemonia política, nem à esquerda nem à direita, razão pela qual a esquerda precisa se livrar do lulopetismo e das cansativas batalhas identitárias do psolismo e se modernizar, para que, como social-democracia, volte a ter relevância no debate público contra uma direita que, de modo inteligente, captou as aflições e os desejos da maioria do eleitorado.

Quando deveriam pensar sobre um Brasil que se transforma a olhos vistos e numa velocidade estonteante, Lula e seus aliados trabalham sob a mesma lógica dos anos 2000, quando chegaram à Presidência pela primeira vez. Trata-se de um envelhecimento que vai muito além da idade de suas lideranças. É uma senilidade de ideias – em parte decorrente do próprio pensamento rupestre típico da esquerda marxista, em parte decorrente dos erros do passado, jamais admitidos.

Do mesmo modo que o Brasil precisa de uma direita não bolsonarista e não golpista, também precisa de uma esquerda moderna, capaz de fazer um contraponto qualificado. Não está claro qual caminho o PT adotará nessa rediscussão, mas parece difícil que seja o PT a promover tal modernização e a construir uma esquerda liberal progressista, não estatista, não radical e não dependente de Lula – atributos essenciais para lidar com uma direita que caminha para monopolizar o cenário político do País num futuro previsível. O que se vê, por ora, é um discurso essencialmente concentrado na polarização, nas questões identitárias e na velha cantilena anti-imperialista, demonstrando excruciante incapacidade de atualizar sua agenda.

Enquanto isso, o PT ainda padece do seu vício de origem: achar que os eleitores é que estão cometendo erros, induzidos por algoritmos, pela mídia e pelas “elites”. Ignora, por exemplo, os anseios de prosperidade da nova classe média – que o marxismo chama jocosamente de “pequena burguesia” –, desejosa de um Estado que justifique os impostos que cobra e não lhe atrapalhe a vida. E ignora as aspirações de eleitores e cidadãos de baixíssima renda que ainda precisam da proteção e do cuidado do Estado. Para os primeiros, essa esquerda embolorada parece não ter projeto, reservando-lhes indisfarçável desdém. Para os demais, não oferece muito mais do que a velha política de transferência de renda.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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