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(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, publicado no Notícias da Manhã, da Espinharas FM, em 25/10//2024.
Pesquisa Datafolha mostra que 34% dos eleitores não comprereceriam às urnas, se o voto não fosse obrigatorio. E lembra que o sufrágio facultativo respeita as liberdades.
Aceito as duas afirmativas. Mas temos que levar em consideração números que nos advertem do perígo que mora aí. Na Holanda, um país altamente democrático, o voto foi tornado facultativo em 1967 e o comparecimento às urnas caiu de 95% para 80%.
Mas, aqui entre nós, isto traria para nós um perigo ainda maior. Se o voto fosse facultativo no Brasil, quem iria deixar de votar? O eleitor consciente ou o eleitor não consciente? Claro que seria o eleitor consciente, pois o não consciente ia procurar uma vantagem para votar, o que acontece aqui com a maior normalidade. Ou seja, o eleitor não consciente é o que mais vende o voto, justamente porque na sua incosciência ele acha que o voto não vale nada e vai procurar tirar vatagem do ato de votar.
Consequência, se o voto deixar de ser obrigatório, os eleitores viciados a vender o voto continuarão a vender o seu voto e cobrarão muito mais caro por ele, porque os compradores de votos só terão a eles como fregueses. E os eleitores conscientes ficarão em casa, por que não são mais obrigados a votar. E o resultado será que continuaremos a escolher políticos da pior qualidade, sem nenhuma chance para políticos sérios e honestos.
Num país sério, com eleitores conscientes que não se vendem, a redução do número de eleitores não vai fazer grande diferença, pois os que continuam a votar serão sempre eleitores conscientes, mas o mesmo não acontecerá num país como o Brasil, onde a maior parte do eleitor não tem consciência e só vota se receber vantagens. E quem oferece vantagens ao eleitor está sempre mal intencionado e vai sempre procurar recuperar o que gastou, roubando, diretamente, se for um governante ou indiretamente se for um vereador, deputado ou senador.
Que me perdoem a expressão. Num país esculhambado como o Brasil nunca será possível tornar o voto facultativo. Com ele obrigatório sempre haverá votos conscientes que votam ou pela consciência ou pela obrigação. Claro, que revoltados, muitos poderão anular o voto ou votar em branco, já que a qualidade dos candidatos vai de mal a pior. Mas sempre restarão alguns poucos eleitores conscientes que votarão nos poucos candidatos decentes que restarem.
E ao mesmo tempo, resta aos politicos sérios, e ainda os há, por poucos que sejam, batalhar para melhorar a consciência do eleitor, nem que só se tornem maioria lá para o final do mundo. Nâo custará continuar na luta para melhorar de um lado a qualidade dos políticos e de outro a qualidade dos eleitores, mesmo certos de que só melhoraremos a qualidade dos políticos se melhorarmos a qualidade dos eleitores.