(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista, professor universitário e poeta, em 07/11/2024)
Se a arrogância e a prepotência tivessem um rosto, certamente seria o de Donald Trump. A figura do ex-presidente dos Estados Unidos, que acumula riqueza e influência em meio a controvérsias, se tornou o símbolo de uma política que une populismo extremo, desrespeito aos princípios democráticos e intolerância. Com uma trajetória que mistura sucesso no mercado imobiliário à exploração de brechas fiscais e a utilização de tráfico de influência, Trump não só construiu um império, mas também uma imagem de líder duro e implacável, cuja visão de mundo ecoa entre setores radicais de direita no Brasil e em outros países.
Trump representa um tipo de política que não só flerta com o autoritarismo, mas abraça suas premissas. Sua retórica nacionalista, que criminaliza imigrantes e exalta a “América para os americanos”, tem servido como base para ataques à diversidade e ao pluralismo. Isso reverbera de forma perigosa, especialmente no Brasil, onde líderes populistas, como Jair Bolsonaro, veem na figura de Trump um modelo a seguir. Na visão desses políticos e de seus seguidores, o direito de impor sua vontade sobre o que consideram “ameaças” – sejam elas políticas, culturais ou sanitárias – é mais importante do que a própria democracia.
O negacionismo em relação às vacinas e à ciência é outro ponto central da pauta defendida por essa direita global. Durante a pandemia de Covid-19, Trump repetidamente colocou em dúvida a eficácia e segurança das vacinas, um posicionamento que encontrou eco em Bolsonaro e em sua base de seguidores no Brasil. Esse descrédito na ciência não só minou os esforços de saúde pública, mas também criou uma cultura de desconfiança que, mesmo com o fim da crise sanitária, continua a dividir a sociedade e a dificultar o progresso em áreas como educação e tecnologia.
O descrédito nos poderes democráticos constituiídos também é uma marca comum desses líderes. Trump, ao insistir que as eleições foram “roubadas” mesmo sem evidências, incentivou atos de insurreição, como o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Esse tipo de comportamento é um perigo não só para os Estados Unidos, mas para o mundo. No Brasil, vimos atitudes semelhantes por parte de apoiadores de Bolsonaro, com ataques ao sistema eleitoral e tentativas de deslegitimar a Justiça e a imprensa. Esse desprezo pelas instituições democráticas ameaça corroer as bases do Estado de Direito, que é essencial para qualquer democracia saudável.
O cidadão comum brasileiro, que agora parece acompanhar as eleições americanas como se fossem decisivas para seu próprio futuro, é reflexo desse cenário de polarização e desinformação. A ideia de que a vitória de Trump representaria uma vitória para os “patriotas” no Brasil revela uma perigosa apropriação de pautas externas que, em muitos casos, não têm relação com as necessidades reais da população brasileira. O impacto disso é visível nas redes sociais, onde celebrações pelo suposto retorno de Trump à Casa Branca estão cada vez mais comuns. Isso mostra uma deturpação do papel da política americana e um apego a lideranças que, em vez de buscar construir pontes, preferem erguer muros e promover o ódio.
É fundamental que os brasileiros entendam que as pautas defendidas por figuras como Trump, Bolsonaro e Milei não são soluções viáveis para os problemas complexos que enfrentamos. O nacionalismo exacerbado, o desprezo pela ciência e o autoritarismo são ameaças reais para a democracia. A euforia em torno dessas lideranças, tanto aqui quanto no exterior, revela uma busca por soluções simplistas que, na verdade, geram divisão, ódio e retrocesso.
Este é um momento crucial para refletirmos sobre o tipo de política que queremos para o nosso país e o mundo. Se continuarmos a exaltar líderes que veem a arrogância e o autoritarismo como virtudes, estaremos abrindo mão daquilo que mais importa em uma democracia: a liberdade, o respeito ao próximo e o compromisso com a verdade e com o bem comum.