Infiltração no poder público municipal, transformação do Tatuapé, investimento em igrejas, bitcoins e futebol, domínio nos presídios, diversificação das rotas da venda de cocaína e impulsionamento de crimes ambientais estão entre as situações que revelam essa escalada
O assassinato do delator do PCC na última sexta-feira, 8, em plena luz do dia, no Terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, reflete a espiral de um problema crônico no País: o avanço do crime organizado, que pulveriza as áreas de atuação para lavar dinheiro e lucrar com o tráfico de drogas.
Ex-funcionário de uma das maiores construtoras da cidade, Antonio Vinicius Lopes Gritzbach fechou acordo de delação premiada em abril com o Ministério Público de SP e já tinha dado detalhes sobre o envolvimento do PCC no mercado imobiliário e no futebol.
Entretanto, outras operações do MP e das polícias já tinham revelado a presença do PCC no poder público municipal, a transformação do bairro do Tatuapé, na zona leste da capital paulista, em base de luxo dos chefes da facção, além do investimento em igrejas e bitcoins. Estudos ainda apontam a diversificação das rotas da venda de cocaína e a atuação de facções na gestão de garimpos ilegais no País.
Transporte público de SP
● Em abril de 2024, após quatro anos de investigação, o Ministério Público de SP realizou a Operação Fim da Linha, a maior já feita contra a infiltração da facção no poder público municipal no País.
Transformação do Tatuapé na ‘Little Italy’
● A Operação Fim da Linha também apontou os tentáculos do PCC no setor imobiliário, com investimentos em diversos apartamentos de luxo no Tatuapé, na zona leste da capital. Os empreendimentos são usados para lavar dinheiro da facção. Desde 2018 a polícia realiza revistas em endereços suspeitos. Em um deles, foram apreendidos dois fuzis, uma submetralhadora, cinco pistolas e um revólver.
● A facção também tem diversificado as formas de lavar dinheiro e esconder os ganhos com o tráfico internacional. Entre as estratégias, estão desde criptomoedas e fintechs até o uso de igrejas.
● Segundo mapeamento do Ministério da Justiça e Segurança Pública, ao menos 88 organizações criminosas atuam nos presídios brasileiros. Os dados foram divulgados pelo Estadão em setembro.
Elas são as únicas com abrangência nacional, “o ápice das organizações criminosas”. Seus negócios afetam todos os países vizinhos, elas fornecem armas e drogas e seus membros precisam pagar contribuições mensais para fazer parte do grupo.
● Pesquisadores apontaram em relatório divulgado em junho deste ano que o PCC tem expandido o envio de cocaína para a África Ocidental para tentar diversificar as rotas e alcançar diferentes regiões da Europa, onde o grama da droga rende muito mais financeiramente do que em vizinhos ao Brasil, como Colômbia, Peru e Bolívia.
● Um estudo sobre a nova corrida do ouro na Amazônia, feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, alerta para a expansão da atuação de facções na gestão de garimpos ilegais no País. Segundo os dados, nos últimos anos, grupos criminosos encontraram no garimpo um meio para lavar dinheiro sujo e uma estrutura logística útil ao escoamento de drogas e de armas por dentro da floresta amazônica.
A atuação dos criminosos, que ocorre ao menos desde 2019, alterou radicalmente a vida no local, com os garimpeiros passando a andar armados com fuzis e a usar roupas pretas, conforme apontado pelo relatório “Yanomami Sob Ataque”.
● Deflagrada em fevereiro pelo Gaeco do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) em parceria com outros órgãos, uma investigação identificou um possível elo de um esquema de adulteração de combustíveis com bandidos ligados ao PCC.
O Instituto Combustível Legal (ICL) estima que há indícios de atuação do PCC junto a mais de 900 postos de combustíveis, por vezes usados pela facção também para lavar dinheiro obtido com o tráfico de drogas.