Além da morte do delator do PCC: 7 sinais de que o crime organizado saiu do controle no Brasil

By | 13/11/2024 6:40 am

Infiltração no poder público municipal, transformação do Tatuapé, investimento em igrejas, bitcoins e futebol, domínio nos presídios, diversificação das rotas da venda de cocaína e impulsionamento de crimes ambientais estão entre as situações que revelam essa escalada

(Marcelo Godoy e Ítalo Lo Re, no Estadão, em 12/11/2024)

O assassinato do delator do PCC na última sexta-feira, 8, em plena luz do dia, no Terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, reflete a espiral de um problema crônico no País: o avanço do crime organizado, que pulveriza as áreas de atuação para lavar dinheiro e lucrar com o tráfico de drogas.

Ex-funcionário de uma das maiores construtoras da cidade, Antonio Vinicius Lopes Gritzbach fechou acordo de delação premiada em abril com o Ministério Público de SP e já tinha dado detalhes sobre o envolvimento do PCC no mercado imobiliário e no futebol.

Gritzbach voltava de viagem quando foi baleado no Aeroporto de Guarulhos
Gritzbach voltava de viagem quando foi baleado no Aeroporto de Guarulhos • Polícia Civil/Divulgação

Entretanto, outras operações do MP e das polícias já tinham revelado a presença do PCC no poder público municipal, a transformação do bairro do Tatuapé, na zona leste da capital paulista, em base de luxo dos chefes da facção, além do investimento em igrejas e bitcoins. Estudos ainda apontam a diversificação das rotas da venda de cocaína e a atuação de facções na gestão de garimpos ilegais no País.

Transporte público de SP

● Em abril de 2024, após quatro anos de investigação, o Ministério Público de SP realizou a Operação Fim da Linha, a maior já feita contra a infiltração da facção no poder público municipal no País.

Na ocasião, duas das maiores empresas de ônibus da capital, UPBus e a Transwolff, foram acusadas de terem sido criadas com dinheiro do PCC. Quatro pessoas foram presas suspeitas de fazer parte do cartel montado pelo crime organizado para se apossar do chamado Grupo Local de Distribuição do sistema municipal de transportes, onde estão as empresas que atuam nos bairros da capital. A Prefeitura decretou intervenção nas empresas de ônibus e disse colaborar com as investigações. O Estadão não conseguiu localizar os defensores dos acusados.

Transformação do Tatuapé na ‘Little Italy’

● A Operação Fim da Linha também apontou os tentáculos do PCC no setor imobiliário, com investimentos em diversos apartamentos de luxo no Tatuapé, na zona leste da capital. Os empreendimentos são usados para lavar dinheiro da facção. Desde 2018 a polícia realiza revistas em endereços suspeitos. Em um deles, foram apreendidos dois fuzis, uma submetralhadora, cinco pistolas e um revólver.

De acordo com as investigações, os imóveis foram registrados em nome de empresas de fachada e de laranjas a fim de ocultar os verdadeiros donos: membros da facção, entre eles pessoas ligadas a Marcola (Marco Willians Herbas Camacho).
“É a nossa Little Italy, a nossa Sicília.”
Fábio Bechara,
promotor do Gaeco
Todas essas circunstâncias levaram as polícias e o Ministério Público a concluírem que o bairro se transformara na primeira base de luxo para criminosos que deixaram favelas de São Paulo e enriqueceram com o tráfico internacional de drogas.
Investimento em igrejas, bitcoins e futebol
● A facção também tem diversificado as formas de lavar dinheiro e esconder os ganhos com o tráfico internacional. Entre as estratégias, estão desde criptomoedas e fintechs até o uso de igrejas.

Divulgação/MP-RN
As investigações ainda apontam o elo entre dirigentes ligados a empresas que cuidam da carreira de jogadores de futebol e a facção. Os crimes investigados por enquanto não têm relação com atletas, cartolas e clubes, mas o Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) apura se a origem dos recursos para a negociação de atletas foi o tráfico de drogas.
Domínio do PCC e das facções na maioria dos presídios
● Segundo mapeamento do Ministério da Justiça e Segurança Pública, ao menos 88 organizações criminosas atuam nos presídios brasileiros. Os dados foram divulgados pelo Estadão em setembro.

Alex Silva/Estadão
Apesar do número elevado, os dados apontam o domínio e influência de duas facções: Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), no Rio.

Elas são as únicas com abrangência nacional, “o ápice das organizações criminosas”. Seus negócios afetam todos os países vizinhos, elas fornecem armas e drogas e seus membros precisam pagar contribuições mensais para fazer parte do grupo.

Dversificação das rotas da venda de cocaína
● Pesquisadores apontaram em relatório divulgado em junho deste ano que o PCC tem expandido o envio de cocaína para a África Ocidental para tentar diversificar as rotas e alcançar diferentes regiões da Europa, onde o grama da droga rende muito mais financeiramente do que em vizinhos ao Brasil, como Colômbia, Peru e Bolívia.

Tiago Queiroz/Estadão
Estimativa do Ministério Público de São Paulo aponta que a facção movimenta US$ 1 bilhão ao ano. O tráfico transcontinental é central para a expressiva movimentação de riqueza.
Impulsionamento de crimes ambientais
● Um estudo sobre a nova corrida do ouro na Amazônia, feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, alerta para a expansão da atuação de facções na gestão de garimpos ilegais no País. Segundo os dados, nos últimos anos, grupos criminosos encontraram no garimpo um meio para lavar dinheiro sujo e uma estrutura logística útil ao escoamento de drogas e de armas por dentro da floresta amazônica.

Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima
No Tapajós, há registros de que o Comando Vermelho, facção originada no Rio de Janeiro, já utiliza a logística de garimpos. A nova preocupação é a de que o próprio grupo assuma a gestão de frentes de garimpagem ilegal como nova atividade ilícita para aumentar sua força econômica. Em 2023, a presença do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Território Indígena Yanomami já tinha ficado evidente.

A atuação dos criminosos, que ocorre ao menos desde 2019, alterou radicalmente a vida no local, com os garimpeiros passando a andar armados com fuzis e a usar roupas pretas, conforme apontado pelo relatório “Yanomami Sob Ataque”.

Adulteração de combustíveis
● Deflagrada em fevereiro pelo Gaeco do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) em parceria com outros órgãos, uma investigação identificou um possível elo de um esquema de adulteração de combustíveis com bandidos ligados ao PCC.

ANP/Divulgação
As investigações mapearam que alguns dos donos das empresas investigadas têm vínculo com o PCC. Para esconder esses elos, o esquema teria usado “laranjas” (pessoas sem histórico no crime) para tentar manter distância das investigações.

O Instituto Combustível Legal (ICL) estima que há indícios de atuação do PCC junto a mais de 900 postos de combustíveis, por vezes usados pela facção também para lavar dinheiro obtido com o tráfico de drogas.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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