Desmonte do Ministério do Trabalho e Emprego 

By | 14/09/2014 12:01 am

Francisco Gérson Marques de Lima, procurador do Trabalho no Ceará

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) vem sobrevivendo com dificuldade há alguns anos, por falta de investimento do Governo Federal e porque se transformou no Ministério menos valorizado, passando por várias crises e trocando de Ministro com certa frequência. A fiscalização trabalhista, atualmente, agoniza, por falta de auditor fiscal e de condições de trabalho. Outros setores do mesmo Ministério não tem tido sorte diferente, o que prejudica, diretamente, os trabalhadores. Tanto que, no primeiro semestre deste ano (2014), sindicatos representantes dos funcionários deste Ministério apresentaram Queixa na OIT- Organização Internacional do Trabalho, no sentido de que o Brasil adote providências para resgatar a funcionalidade e lhe conceder condições reais de funcionamento. As relações de trabalho ficam bastante comprometidas sem os funcionários deste Ministério, que precisa ser federal, a fim de ficar infenso às politicagens locais e influências de grupos locais.

Contudo, a resposta do Governo brasileiro não poderia ser pior, na medida em que desconsiderou as reivindicações e passou a imaginar um outro organismo, que o sucederá. Trata-se da elaboração de um Projeto, alimentado pela cúpula do próprio MTE, prestes a ser enviado à Casa Civil, de onde será encaminhado ao Congresso Nacional, o qual está de braços abertos para recebê-lo.

Engendrado pelo Governo Federal, tramita projeto de criação do Sistema Único do Trabalho (SUT), inspirado no modelo do SUS (que, sabidamente, é uma lástima), para substituir a atual estrutura do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. Em síntese, o projeto sorrateiro municipaliza e estadualiza competências trabalhistas, distribuindo-as em Conselhos municipais e estaduais. O Conselho Nacional do Trabalho terá funções de normatizar e deliberar assuntos gerais, em sua composição tripartite (governo, empresários e trabalhadores). Os recursos federais, despesas financeiras e servidores do moribundo MTE serão repassados aos Estados e Municípios, a fim de manter a estrutura e atribuições locais dos Conselhos, que serão criados. São recursos que poderiam ser investidos, direta e racionalmente, na estrutura atual do MTE, cuja fiscalização arqueja por falta de condições de funcionamento adequado.

Os Conselhos nacional, estaduais e municipais cuidarão da política do trabalho, administrados por pessoas não concursadas, provavelmente os apaniguados locais, ao estilo do velho cabide de emprego, com representantes do governo, das empresas e dos trabalhadores, cada um indicado por suas respectivas representações. Sem nenhuma independência real, esses conselheiros irão decidir sobre recursos federais e matérias trabalhistas, cada um no seu ramo. O leitor deve se lembrar da máfia do seguro desemprego. Agora, imagine sendo os recursos confiados a conselheiros escolhidos politicamente, sem concurso. O Projeto se utiliza de termos amplos e abertos, o que remete uma infinidade de interpretações para a prática futura.

Esse modelo tem tudo para não funcionar, a não ser desmontar de vez o MTE e justificar o repasse de verbas federais para Estados e Municípios. O FAT, o primeiro atingido, será chamado de FNT – Fundo Nacional do Trabalho, administrado por tais Conselhos. E, o mais preocupante: é um projeto engendrado dentro do Governo federal, sem nenhuma discussão prévia com a população.

É chegada a hora de indagar aos candidatos (à Presidência, ao Governo e às Casas Legislativas) o que acham desse projeto. E quem deve fazer essa indagação são os sindicatos, porque a alteração atingirá em cheio as relações de trabalho e, mais uma vez, prejudicará sensivelmente o trabalhador.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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