Declaração de Marina sobre passar fome deixa Dilma e Aécio sem ação

By | 22/09/2014 5:15 am

(Terra)

Sei o que é passar fome. Como criticar ou ironizar uma declaração tão contundente? Ao mergulhar de cabeça na apelação emocional, e ressaltar em seu programa eleitoral na TV que viveu uma infância miserável, sentindo no estômago (e na alma) o que é não ter comida na mesa, Marina Silva evaporou o boato de que acabaria com o Bolsa Família e, de quebra, se lançou a um pedestal quase inatingível. Como Dilma e Aécio podem contra-atacar? Como criticar a representante de uma realidade que foi — e ainda é — conhecida intimamente por milhões de brasileiros? A petista não poderá repetir que a candidata do PSB se faz de ‘coitadinha’. O tucano pensará duas vezes antes de acusar a ex-senadora de ser vitimista. Não dá para desqualificar quem assume ter passado fome. Seria uma atitude vista como desumana e cruel. Bombardear Marina por sua declaração dramática poderia ofender milhões de outras pessoas que também já conheceram (ou ainda sentem) a fome. Em campanha eleitoral sempre se discute  os limites da baixaria, da troca de ofensas, do terrorismo psicológico contra o eleitor. Com Marina, a discussão avança para o campo da emoção. Há um limite para a manipulação emocional? Por ironia da história, ou, se preferir, do destino, essa guerra eleitoral faz Marina Silva se aproximar virtualmente cada vez mais de Lula, seu ex-mentor e agora novo desafeto. Na ânsia por se eleger, ambos usaram a origem pobre, o preconceito social e a superação pelo próprio esforço como estandarte da campanha à Presidência da República. Nos dois casos, a pobreza foi vendida quase como uma virtude, como se ela os fizesse mais merecedores da vitória do que, por exemplo, um candidato de classe média que nunca sentiu a barriga vazia. Sei o que é passar fome. Depois dessa frase-slogan, não há como apelar mais profundamente ao emocional do telespectador-eleitor. Ou há?

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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