Outras intenções

By | 03/01/2015 7:41 pm

(Editorial da Folha, neste sábado)

Suscita alguma frustração o discurso feito por Dilma Rousseff (PT), na quinta-feira (1), ao tomar posse em seu segundo mandato como presidente da República.

Não foram atendidas as expectativas de quem aguardava, em especial depois da nomeação da nova equipe econômica, o anúncio de medidas concretas para enfrentar a inflação e ampliar a transparência das contas públicas.

Admita-se que a ocasião não permitiria grandes mergulhos no detalhamento técnico, ainda mais em se tratando de providências impopulares no curto prazo. Mesmo assim, parece ter faltado à presidente a disposição para marcar com firmeza uma mudança de rumos cuja necessidade, na prática, o novo ministério reconhece.

Bem ao contrário, a maior parte das declarações de Dilma no campo da economia caracterizou-se por um espírito de comemoração próximo do que se transmitia durante a campanha eleitoral e alheio à dura realidade do país.

Verdade que, do ponto de vista retórico, a situação da presidente não lhe trazia facilidades. Não haveria como renegar o que se fez ou deixou de fazer até aqui; não haveria como insistir no que, tacitamente, admite-se ter sido equivocado.

Diante do relativo impasse, que se resume no propósito de empreender ajustes sem sacrifícios, foi necessário que o discurso dilmista procurasse outros pontos capazes de dar uma direção simbólica aos próximos quatro anos.

Lançou-se então o slogan, algo reminiscente dos anos 1970, da “pátria educadora”. Descontado o que tenha de rigidez verde-amarelista, ou mesmo seus traços de palmatória cívica, o lema possui a qualidade de dar à questão do ensino a devida prioridade –ao menos no plano das palavras, sempre mais fácil do que no das ações.

Talvez também faltem ações para levar adiante a renovada e sempre vaga promessa de empreender uma reforma política. Note-se, de todo modo, que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi ainda mais enfático do que Dilma na admissão de sua urgência.

Somou-se a esse conjunto de intenções o anúncio de um sucinto pacote anticorrupção. Três pontos, portanto –investimentos em educação, reforma política e defesa do patrimônio público–, que podem ocupar a Presidência num período em que a margem de manobra econômica é muito pequena.

Serão suficientes? Serão minimamente levados adiante? A dificuldade do governo para a autocrítica e para romper seus compromissos com a fisiologia, a corrupção e a arrogância do PT e seus aliados não autorizam grande otimismo; mas nada indica que, da parte de Dilma Rousseff, não seja sincero o empenho em corresponder às promessas de seu discurso.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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