(Folha de quarta-feira)
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), favorito na disputa pela presidência da Câmara no próximo dia 1º, é um dos citados na Operação Lava Jato da Polícia Federal e terá uma investigação a seu respeito pedida pelo Ministério Público Federal ao STF (Supremo Tribunal Federal).
De acordo com investigadores que atuam no caso, ele é suspeito de ter recebido dinheiro do esquema por meio do policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o “Careca”, que atuaria como um dos funcionários do doleiro Alberto Youssef.
O doleiro triangulava as operações investigadas envolvendo funcionários da Petrobras, empreiteiras contratadas pela estatal e políticos.
Cunha sempre negou ter qualquer envolvimento com o esquema apurado pela PF.
Segundo a Folha apurou, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve pedir a abertura de inquéritos e apresentar denúncias contra os envolvidos no esquema que têm foro privilegiado na primeira semana de fevereiro, quando forem reabertos os trabalhos do Supremo.
Denúncias serão apresentadas contra os que o Ministério Público considera ter provas de participação no esquema. Já os inquéritos serão abertos contra aqueles que têm contra si somente indícios de participação em transações criminosas –Cunha está neste segundo grupo, segundo a Folha apurou.
A partir do pedido de abertura de inquérito, caberá ao relator da Lava Jato no Supremo, ministro Teori Zavascki, aceitar ou não o início das investigações sobre Cunha e os demais suspeitos que se encaixam nesta situação. É praxe na corte, no entanto, acatar este tipo de demanda.
A aceitação do inquérito não significa culpa. Somente após as investigações e o processo no STF, os acusados serão inocentados ou condenados por eventuais crimes.
De acordo com a Polícia Federal, o “Careca” seria responsável por entregar dinheiro em espécie a pessoas indicadas pelo doleiro Youssef.
Ele também teria se aproveitado da condição de policial federal para facilitar o embarque e desembarque de outros funcionários do doleiro em aeroportos.
O policial chegou a ser preso na sétima fase da Operação Lava Jato, mas foi solto alguns dias depois.
O juiz responsável pelo caso na Justiça Federal do Paraná, Sergio Moro, porém, o manteve afastado da PF até o final da apuração. O policial chegou a ofertar uma delação premiada, mas ela não foi aceita inicialmente.
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirmou nesta terça (6) que já tinha conhecimento sobre a citação ao seu nome por parte do policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o “Careca”, durante as investigações da Operação Lava Jato.
Cunha disse que teve acesso ao depoimento de Careca. Nele, segundo o deputado, o funcionário de Alberto Youssef relatou ter entregue um determinado valor em um condomínio na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, e “teria ouvido dizer” que se tratava do endereço do peemedebista.
O deputado argumenta que mora num outro condomínio, também na Barra, mas diferente do citado por Careca.
“É um fato absolutamente conhecido. Ele não afirma que se trata de mim, mas que apenas ouviu dizer. E a localização não tem nada a ver comigo, o endereço não bate com o meu endereço. Estou absolutamente tranquilo”, argumentou o peemedebista.
Cunha contou ainda que um representante da defesa de Jayme Oliveira Filho procurou um dos seus advogados. De acordo com Eduardo Cunha, a defesa de Careca afirmou que fará uma petição esclarecendo o fato.
“Ele não afirma e não me acusa. Isso não é de hoje”, concluiu Cunha.
O deputado acrescentou que, numa das interceptações telefônicas da Operação Lava Jato, Youssef fala com um interlocutor sobre Eduardo Cunha, mas que se trata de um homônimo.
Em outras ocasiões, Cunha sempre defendeu cautela em relação às suspeitas sobre outros políticos como forma de evitar prejulgamentos.